tag:blogger.com,1999:blog-68145363712815462592024-03-13T16:53:53.030+00:00NOTÍCIAS DO BLOQUEIOUm blogue de Fernando Paulouro NevesFernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.comBlogger1406125tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-37077237195391346482024-03-09T14:36:00.001+00:002024-03-09T14:36:23.205+00:00VOTAR ABRIL<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaSPjV_hemr4D9TWZQ4NTEBfqEAFO2mj_l-7xOULPET0wPu9mBfawipYravw1WKvoykOK9DezDezJ8HIT4FCvxZXAytPbBhS6e-_V4u1u_yO7bWr0EkZBKNZx6t98NbKxc5ZmxyAHOPfYSRKyV8-zSrOprAy31yaxxdQZycHmfWTTAqvPjLVvb-gBU8-M/s506/25_abril%2022.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="506" data-original-width="500" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaSPjV_hemr4D9TWZQ4NTEBfqEAFO2mj_l-7xOULPET0wPu9mBfawipYravw1WKvoykOK9DezDezJ8HIT4FCvxZXAytPbBhS6e-_V4u1u_yO7bWr0EkZBKNZx6t98NbKxc5ZmxyAHOPfYSRKyV8-zSrOprAy31yaxxdQZycHmfWTTAqvPjLVvb-gBU8-M/s320/25_abril%2022.jpg" width="316" /></a></div><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">De cada vez que há
eleições, vem-me sempre à memória o longo combate contra a ditadura, pela
liberdade e pelos direitos elementares comuns a todas as conquistas
civilizacionais da Humanidade. Foram quase cinco décadas de ignomínias num país
chamado Portugal, em que os portugueses tinham medo de existir, perdidos nos
labirintos da repressão e da estupidez programada pelo salazarismo e seu
afluentezinho de circunstância, o marcelismo. Então, o medo tomava tudo, transformando
pessoas em ratos, escrevia o poeta Alexandre O’Neill (</span><i style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Poema pouco original sobre o medo</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">), trauma de longa duração, que
inquinou mentalidades e comportamentos (Prof. José Gil, </span><i style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Portugal, o Medo de </i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">Existir). No complexo de direitos postergados figurava
o de votar e eleger os representantes do povo. Duros combates, batalhas
infindáveis, um tempo longo que parecia eterno, mas cuja eternidade era sempre
estilhaçada pela esperança. E assim aconteceu Abril.</span><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">
<span style="background: white;">Ainda há saudosos desses tempos ominosos. Alguns,
que viviam no conforto da ditadura, às vezes com duplicidade, é verdade,
escamoteiam hoje essa relação promíscua, como se a vida tivesse sido uma coisa
linear; muitos outros, ficaram pelo caminho e houve um poeta português, um dos
melhores, Jorge de Sena que escreveu: "Não hei-de morrer sem ver a cor da
liberdade". A palavra Liberdade também nós a escrevemos, todos os dias, na
cidadania, na afirmação cívica, no exercício desse direito que o 25 de Abril
materializou, somando-o a muitos outros que são parte inteira da dignidade
humana. Também nós podemos saber as cores da liberdade, de que falava Sena, na
forma como amanhã encararmos a eleição. Votando Abril.<o:p></o:p></span></span></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-72375455704657464212024-02-27T17:13:00.001+00:002024-02-27T17:13:46.088+00:00A GRANDE IMPRECAÇÃO DIANTE DE ABRIL<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZmOvlEHhAI5i_4l2xBnCEsxngnk7IBehvoyIywUtKcYtlO25kXFrr6e3Y5sxxAkuTuYCV6nrFQrHSxVWVuaOV7xY8cTBsBsHtycqV-WlK29m6FD8NQCCayXECHVLezvWuCTLxeWTO0B3Dac1QKI0aGpO6wM-JgXsDrB3wpIE1QxAYaoX7wJOF0RecINY/s2670/TDB_A_Grande_Impreca%C3%A7%C3%A3o_Diante_Das_Muralhas_Da_Cidade_11.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2670" data-original-width="1780" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZmOvlEHhAI5i_4l2xBnCEsxngnk7IBehvoyIywUtKcYtlO25kXFrr6e3Y5sxxAkuTuYCV6nrFQrHSxVWVuaOV7xY8cTBsBsHtycqV-WlK29m6FD8NQCCayXECHVLezvWuCTLxeWTO0B3Dac1QKI0aGpO6wM-JgXsDrB3wpIE1QxAYaoX7wJOF0RecINY/w426-h640/TDB_A_Grande_Impreca%C3%A7%C3%A3o_Diante_Das_Muralhas_Da_Cidade_11.jpg" width="426" /></a></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk3B5bcrc9msX2GXMbxibpPxo8QMrzLkq2fXHGmNb1Xj9IBLLTJOh_rwAcUsIm3phtTP5OadzfGGY1YfTcnghQOto2BlGq4z4ajtiZkxPzMqIlDBfH4S8R1az9l5KLqO8dFJyBv8XIe9N0gNFs1dSID92TpLRbaZ86I0AH2p7HZfTCmIVhbzruOrGLYAI/s2736/TDB_A_Grande_Impreca%C3%A7%C3%A3o_Diante_Das_Muralhas_Da_Cidade_42.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1824" data-original-width="2736" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk3B5bcrc9msX2GXMbxibpPxo8QMrzLkq2fXHGmNb1Xj9IBLLTJOh_rwAcUsIm3phtTP5OadzfGGY1YfTcnghQOto2BlGq4z4ajtiZkxPzMqIlDBfH4S8R1az9l5KLqO8dFJyBv8XIe9N0gNFs1dSID92TpLRbaZ86I0AH2p7HZfTCmIVhbzruOrGLYAI/w640-h426/TDB_A_Grande_Impreca%C3%A7%C3%A3o_Diante_Das_Muralhas_Da_Cidade_42.jpg" width="640" /></a><b>Fotos: Ovelha Eléctrica</b></div><span style="font-size: 14pt;">Às vezes, as contingências marcam de tal forma os
acontecimentos, que a narrativa temporal lhes confere uma dimensão simbólica
que se projeta depois na memória, como marca identificadora da aventura
criadora, com todos os desafios que ela comporta. Quase há meio século, quando
a Liberdade passou por aqui depois do 25 de Abril libertar um país, derrubando
grades que prendiam o povo e o pensamento, um grupo de jovens, respirando essa
liberdade, fundava um grupo de teatro chamado GICC, hoje Teatro das Beiras, que
se assumiu desde logo como Grupo de Intervenção Cultural.</span><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Nos primeiros passos no palco, que fizeram estes jovens
inquietos, que habitavam a matéria de sonhos do Teatro consubstanciada num
território cultural e poético de liberdade livre, como António Ramos Rosa dizia
que a poesia devia ser? No mundo de palavras que criavam, como barro dos dias,
trouxeram Tankred Dorst para dentro do teatro e representaram a espantosa obra
do dramaturgo alemão, <i>A Grande Imprecação
Diante das Muralhas da Cidade</i>, encenada pelo (então) jovem Gil Salgueiro
Nave. Corria o ano de 1979, Abril ainda era tempo de utopias e a cultura uma
nova humanidade a inventar. Tantos anos depois, o encenador volta agora ao
Teatro das Beiras para outro olhar sobre o mesmo texto dramático de Tankred
Dorst, num regresso à inquietação inicial, que o tempo cristalizou, sobre o que
é o Homem e o seu destino.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Que há de comum entre este espetáculo, os 50 anos do 25 de
Abril e os 50 anos do Teatro das Beiras? Tudo. É verdade que no Teatro, desde
que a Tragédia Grega se começou a conhecer a si própria, é imemorial a busca de
um sentido de humanidade, tão evidente na proclamação de Antígona: «Vim para
compartilhar amor, não ódio”. Podíamos dizer: e não a guerra. O teatro é um
grande grito de Liberdade e nesse propósito contém todos os valores que definem
o Homem, com os dramas e os sonhos, tantas vezes a esperança, que iluminam o
seu caminhar coletivo. <i>A Grande
Imprecação Diante das Muralhas da Cidade</i>, envolve essa sublime questão. Num
mundo em que as guerras traduzem uma inumerável banalidade do mal, o texto de
Dorst mantém aquilo a que poderíamos chamar uma dolorosa atualidade da
banalidade do mal, ou, se quisermos, da anquilose civilizacional que é a morte
do mundo. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Daí, também, a expressão dramática de uma temática comum ao
25 de Abril e ao Teatro das Beiras, que navegam juntos, nestes 50 anos de
memórias, na mesma jangada de Liberdade e da sua galáxia de valores – a Paz, o
direito à felicidade, a recusa de Censuras e opressões, tudo aquilo que destrói
a dignidade da pessoa --, em busca de um mundo melhor e da alegria de viver. Da
liberdade livre.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Fernando Paulouro Neves<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Teatro das Beiras, 21.02.24<o:p></o:p></span></p><p><br /></p><p>* <i>Texto escrito para o programa do espetáculo do Teatro das Beiras, A Grande Imprecação Diante das Muralhas da Cidade, de Tancred Dorst, que se estreia dia 29, às 21.30, com espetáculos dias 1, 2, 8 e 9 de Março, às 21.30, e 10 de Março, às 16 horas.</i></p><p><i>Ficha do Espetáculo:</i></p><p><i>Tradução: Mário Barradas</i></p><p><i>Encenação: Gil Salgueiro Nave</i></p><p><i>Cenografia e Figurinos: Luís Mouro</i></p><p><i>Interpretação: Bernardo Sarmento, Miguel Brás, Paulo Monteiro e Sónia Botelho</i></p><p><br /></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-46586206284609619942024-02-26T16:50:00.002+00:002024-02-27T19:23:22.088+00:00OS OLHOS DO HORROR<p><br /><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTCmDFPU6kos6W_DvdEeVXwm4FLd-4782kjdDeGRBQcb-dhAFShu-_O0oPunVNe0MWFjeI7XBty45cfLdljxHJ0FaGlwndKNMhtxaXiAydKu-D4S6WeWhUNI4L6AaoxHLJs9CMoKCNePRxxrQ_6tTAticQgOaUNTgP0fpQ5N4bzs4zYsnGgFSvtPF8Q7A/s2766/menino%20do%20gueto.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1964" data-original-width="2766" height="454" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTCmDFPU6kos6W_DvdEeVXwm4FLd-4782kjdDeGRBQcb-dhAFShu-_O0oPunVNe0MWFjeI7XBty45cfLdljxHJ0FaGlwndKNMhtxaXiAydKu-D4S6WeWhUNI4L6AaoxHLJs9CMoKCNePRxxrQ_6tTAticQgOaUNTgP0fpQ5N4bzs4zYsnGgFSvtPF8Q7A/w640-h454/menino%20do%20gueto.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYQdqs9jcq1GvdWkxYbH_n6nCIU652oWZacr2RdLAllhAYEo2O5oGpqd8FqemSjNf2CjYlwm452-CJQBkxF-e4dLBckjJVEP7y_Pw654nICwYXQeGYiRtoxaHm55ksjhdssH2BEPMm1UM6VMTLLzMhYmD6l7Q9xz4le5JXxl-VHai6KlyyOdBdyKmq5Zw/s960/crian%C3%A7as%20de%20gaza.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYQdqs9jcq1GvdWkxYbH_n6nCIU652oWZacr2RdLAllhAYEo2O5oGpqd8FqemSjNf2CjYlwm452-CJQBkxF-e4dLBckjJVEP7y_Pw654nICwYXQeGYiRtoxaHm55ksjhdssH2BEPMm1UM6VMTLLzMhYmD6l7Q9xz4le5JXxl-VHai6KlyyOdBdyKmq5Zw/w640-h426/crian%C3%A7as%20de%20gaza.webp" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcA2YZXpxo1UBtbuYpJQ1f9kHSGp2DFWx8vc5L08bfFkMxSrKswi_CvqcCaZcV0IMHbDkLv-34GU1XG_ZAoZZf1HcduX_h4vfEB9rUMam7xwXXtbufzDVu5lRMNa1ytRSC8WENH9egqUTAdgvNhf_mkAWLiuEI7yVVawEU8fu2rChkT9LxRo2D0OhV8E0/s595/crian%C3%A7as%20de%20gaza%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="424" data-original-width="595" height="456" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcA2YZXpxo1UBtbuYpJQ1f9kHSGp2DFWx8vc5L08bfFkMxSrKswi_CvqcCaZcV0IMHbDkLv-34GU1XG_ZAoZZf1HcduX_h4vfEB9rUMam7xwXXtbufzDVu5lRMNa1ytRSC8WENH9egqUTAdgvNhf_mkAWLiuEI7yVVawEU8fu2rChkT9LxRo2D0OhV8E0/w640-h456/crian%C3%A7as%20de%20gaza%202.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmqYg4OWDdF22a0GY9l0I6PGm9u0NvbZUdtBYwbcZMDhmwJ7t07v04NwKxlTldkqCNobmwjWjPr8oNumsCFnIPuq3SardTLyJDKTGksDdS-8zNSXlRlFiRWDxSeDKGsHzhI2AtZTEcw1DG-n5fKbpC80RX1gQo7D0FFdV-mdQrcS6vIdw4cZSG5HkzlmA/s800/crian%C3%A7as%20de%20gaza%203.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmqYg4OWDdF22a0GY9l0I6PGm9u0NvbZUdtBYwbcZMDhmwJ7t07v04NwKxlTldkqCNobmwjWjPr8oNumsCFnIPuq3SardTLyJDKTGksDdS-8zNSXlRlFiRWDxSeDKGsHzhI2AtZTEcw1DG-n5fKbpC80RX1gQo7D0FFdV-mdQrcS6vIdw4cZSG5HkzlmA/w640-h360/crian%C3%A7as%20de%20gaza%203.jpeg" width="640" /></a></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quando o crime é grande, há imagens que o tempo não reduz a
pó e persistem, como se fossem lembranças que vieram para ficar das tragédias
avulsas planetárias que atormentaram e atormentam a Humanidade. Essa presença
imemorial, que é sempre remorso coletivo, permanece como sinal da derrota
civilizacional a que estamos assistindo. Vemos o filme dessas realidades que
banalizam a Morte, nas televisões: os cadáveres amontoados ou perfilados à
espera de vez nos cemitérios lotados ou em espaços de cidades bombardeadas, à
beira de nada. Vemos, ouvimos e lemos/ não podemos ignorar, gritava
poeticamente Sophia, mas o mundo e os seus decisores ignoram ou fingem ignorar
as tragédias humanas, ao mesmo tempo que a indiferença vai inquinando a consciência
moral. A negação do Homem, a programada destruição da Humanidade, não os
inquieta ou lhes tira o sono; pelo contrário, batem palmas ao grande negócio
das armas e dizem: o que é preciso é carregar os canhões e municiar os
bombardeiros com bombas e mísseis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Imagens, fotos, visões que atormentam. Há fotografias que se
tornam património comum da memória pela força do instante que reproduzem e pela forma como documentam
a realidade absurda da guerra. Uma delas, grudada à memória, é a daquele miúdo
de braços levantados face à metralhadora do soldado nazi, em 1943, na revolta do
gueto de Varsóvia. É o menino do gueto e o que o seu olhar reflete de perplexidade e angústia, face ao horror, é uma acusação ao mundo, que se prolonga no tempo. Esse olhar pode seguramente encontrar-se
nas crianças de guerras esquecidas ou famosas, num tempo em que 25 por cento
do mundo é campo de batalha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Esses olhos, que parece já não terem lágrimas para chorar,
encontramo-los mil vezes em Gaza, esse crime continuado, com tantos cúmplices,
a que já chamaram “cemitério de crianças”. Gaza é lugar de morte de todas as idades, mas lá os
meninos trazem escrita na mão ou no braço os nomes para mais fácil
identificação. Passam a correr imagens nas televisões – “cuidado com as pessoas
sensíveis”… -- e lá estão os sacos brancos com os cadáveres dos que não tiveram
tempo de viver – só de morrer! Há não sei quantos mil olhos do horror, como os
do menino do gueto de Varsóvia. Quem se importa com eles?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">25.02.24</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-91906217373358599372024-01-29T17:52:00.000+00:002024-01-29T17:52:31.079+00:00A LONGA DURAÇÃO DAS " LUTAS DA MISÉRIA"<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmkuE9iHLPKZ53FLB58N2sox_Lt5sGipxgUcBiV5KFxa_oxVFdBv0svmrzqEi8ck1QUbj5K2LoL6JfRJbEzEuUAuNldJ_UofIkF_80oVoz4-xTVIAMrBpIfbCf-Dj43qIm79pspaTm5TH2nqPpldeJcxElS_GYkfA0VzmG1K2D01iMw6WpwgJ-VtNI9VI/s886/lutas%20da%20mis%C3%A9ria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="886" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmkuE9iHLPKZ53FLB58N2sox_Lt5sGipxgUcBiV5KFxa_oxVFdBv0svmrzqEi8ck1QUbj5K2LoL6JfRJbEzEuUAuNldJ_UofIkF_80oVoz4-xTVIAMrBpIfbCf-Dj43qIm79pspaTm5TH2nqPpldeJcxElS_GYkfA0VzmG1K2D01iMw6WpwgJ-VtNI9VI/w400-h266/lutas%20da%20mis%C3%A9ria.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p><span style="font-size: large;">Eduardo Lourenço dizia que é como </span><span style="font-size: large; line-height: 106%;">leitores</span><span style="font-size: large;"> que nós somos literatura. Numa
primeira aproximação ao livro do José Paulo Leitão, </span><i style="font-size: large;">Lutas da Miséria. Beira Baixa, Alentejo, Andaluzia, a Raia,</i><span style="font-size: large;">
aconteceu comigo aquele fenómeno de apropriação pela leitura, fenómeno que só é
possível quando fazemos corpo com ele e nas suas páginas descobrimos o desafio
à memória e ao conhecimento, através do cruzamento de saberes, para percebermos
melhor o chão da História por onde caminhamos.</span></p><p>
</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">É nesse chão temporal de longa duração que o autor descobre
as relações de persistência da pobreza e das desigualdades no território
confluente da Beira Baixa, com o Alentejo, a Andaluzia, a Raia. Num arco
temporal muito vasto, José Paulo Leitão estabelece a relação entre a
persistência da pobreza e das desigualdades, e os poderes do altar e da Coroa,
fazendo uma espécie de “psicanálise mítica” ao papel dos Braganças (é todo um
capítulo) no continuado destino da miséria, mansa ou violenta, que foi a vida
dos camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Fascinou-me o propósito quase beckettiano do autor, ao “dar
voz ao silêncio”, através de uma narrativa em que a História vai de par com a
geografia humana e literária para trazer à superfície a realidade tantas vezes
submersa da vida nos campo no vasto nó de terra, que é objeto da investigação.
Uma viagem ao mundo rural das desigualdades e ao modo como se reproduziram,
como se fossem fatalidades de “um sono arcaico e profundo” abençoado pelo altar
e pela Coroa. Quer dizer, o autor não esconde o propósito de tomar partido, e,
nesse compromisso, falar de uma narrativa histórica que largamente se esqueceu
ou tratou o povo rural com o anátema de não-gente, como agora se diz. Claro que
na posse da terra (“as províncias de latifúndio e a raia”) estabelece o autor a
raiz da dicotomia dos senhores e dos servos. A caracterização das tipologias
humanas fornece um impressivo painel social dos jornaleiros e mendigos, e dos
seus modos de vida ou de morte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Muito interessante a análise do “Banditismo rural”, com
figuras de rara expressão ficcional, a começar pelo estudo de Diego Corrente,
sobre quem, diz o autor, Lorca chegou a fazer um estudo para Teatro, que não
concluiu, digo eu, por ter sido assassinado às portas de Granada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Ao livro voltarei, com outro tempo e espaço.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nesta primeira incursão a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lutas da Miséria</i>, gostaria de sublinhar
o seguinte: o livro, que tem um belo recorte literário e é uma investigação de
grande rigor, tem uma escrita de forte dimensão emocional. José Paulo Leitão
diz, no fundo, que a esses camponeses de quem faz História, tão avergoados ao
peso da servidão, foi sempre roubado o direito de olharem o céu, em liberdade.
Talvez por isso, dei comigo a recordar o dia em que, <span style="background: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; line-height: 106%;">em Milão, na famosa Pinacoteca ou Galeria Brera, deparei com
um quadro que tem habitado os meus dias. É o famoso <i>Quarto Estado</i>.
Ali estava, face aos meus olhos, a grande tela social que Giuseppe Pelizza de
Volpedo pintou entre 1895 e 1896, sendo justamente considerado um manifesto do
proletariado italiano do século XIX. <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Não
é por acaso que a obra-prima de Bernardo Bertolucci, <i>Novecento </i>(1900) </span>verdadeiro
ícone da arte cinematográfica, abre com um plano que se vai alargando do
quadro de Volpedo. </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; line-height: 106%;"><span style="font-size: medium;">Livro e filme tocam a
mesma realidade: falam de gente que quer levantar-se do chão e poder olhar o
céu.</span><span style="font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt;">26.01.24</span></p><i>Texto escrito para a sessão de apresentação de Lutas da Miséria, de José Paulo Leitão, ed. da Canto Redondo/Jornal do Fundão.</i><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-68524469290008357902024-01-24T20:46:00.000+00:002024-01-24T20:46:21.656+00:00NO PAÍS DOS FAVORES<p><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Não há país
como Portugal para transformar a coisa pública em propriedade pessoal. Não há
como este país para fazer de instituições, algumas com borla e capelo, com
especiais deveres de respeitabilidade e de exigência ética, meras coutadas de
mando e de favorecimentos, que é hoje uma forma perita de, em Portugal, se
fazerem “fretes” e pagarem fidelidades. Não adianta fingir. Todos sabemos como
o capote do poder ou dos poderes cobre tudo, o lugarzinho guardado para Vossa
Excelência, sai já… Ficam os favorecimentos e os favores intramuros, na sombra
de denso silêncio, que isto de levantar a voz e dizer não, é perigoso.
Perdeu-se a vergonha e a respeitabilidade, como dizia o Eça..</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O escritor Javier Cercas, </span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">celebrado autor de <i>Anatomia de um
Instante</i> e de <i>O Castelo do Barba-Azu</i>l, e cronista do “El
Pais”, refletiu sobre as doenças da democracia. A dado passo do seu texto,
quase em jeito de conclusão, advertiu: “Não vejo como pode construir-se uma
democracia de verdade que não seja de verdade uma meritocracia. Quem teme a
meritocracia?”, perguntou ele, e respondeu: “Só os privilegiados ciosos dos
seus privilégios”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Refletindo um pouco
sobre esta realidade sórdida, acolhi-me à poesia, que é uma bela forma de limpar o ar e a alma, para reler dois poemas. O
primeiro é de Alberto Pimenta e deve ser lido devagar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">não tem direitos
por isso compra favores </span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
<i><span style="background: white;">fica a dever favores</span></i></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">faz favores para
pagar os favores</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">compra novos favores
fica a dever favores</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">faz novos favores
para pagar os favores</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">faz favores
paga favores</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">gosta assim
não tem direitos</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">prefere favores
gosta assim </span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
os direitos não se vendem nem se compram</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">e ele tem alma de traficante <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O outro é de
Ana Hatherly e ajusta-se bem aos protagonistas de infâmias:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: left;">ARREGANHAR O DENTE</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O que é preciso é
gente</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">gente com dente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">gente que tenha dente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">que mostre o dente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Gente que seja decente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">nem docente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">nem docemente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">nem delicodocemente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Gente com mente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">com sã mente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">que sinta que não
mente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">que sinta o dente são
e a mente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Gente que enterre o
dente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">que fira de unhas e
dente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">e mostre o dente
potente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">ao prepotente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O que é preciso é
gente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">que atire fora com
essa gente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit",serif; font-size: 11.5pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Historic"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-11516081010511776112024-01-11T22:31:00.001+00:002024-01-11T22:31:16.400+00:00QUANDO MONTENEGRO FICOU MONTEBRANCO<p><span style="font-size: medium;"><b>O SONHO</b></span></p><p><span style="font-size: medium;">Foi o bom e o bonito na S. Caetano à Lapa. Não se tinha
dissipado de todo a neblina da manhã, quando ele saiu do automóvel para se
dirigir à sede. Ouvindo o barulho do motor do carro, alguém chegou à janela e
logo voltou ao seu lugar. Tinha visto uma figura a flutuar num novelo de nuvens e não
teve dúvidas de que era o chefe. Topou-o pela altura: o tipo era grande e
espadaúdo. Vinha com o volumoso cachecol preto, comprado na feira de Espinho,
enrolado ao pescoço, e o fino sobretudo de merino azul, a raiar o escuro,
adereços para compor a imagem na campanha eleitoral.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Dado o alarme, que era ele completamente, vieram todos à porta do salão
nobre, numa manifestação espontânea previamente combinada. Vinha de cenho
carregado, ele que tanto gostava de sorrir nas discursatas e no convívio partidário, mas neste preciso momento a fechava-se em sisudez. Um
arrepio percorreu, como uma lâmina de gelo, o fiel companheiro Pinto Luz, seu
braço direito a comandar a nau do PSD.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Estará doente?», interrogou-se. Depois olhando fixamente o
rosto, exclamou: «Caramba, vens branco como a cal!»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Para desanuviar o ambiente e dar um toque europeu ao
momento, Paulo Rangel quis fazer ironia:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Essa palidez, essa brancura no rosto não joga com o teu
nome: olha que tu és Montenegro, não és Montebranco…»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">O líder, teve vontade de os mandar a todos à tal parte. Ficou pensativo e, finalmente, falou:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Tive um sonho terrível, sabem lá!, a cabeça ardeu-me em
fogo, parecia que estava no inferno…»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Carlos Moedas quis tranquilizar, pôs-se em bicos de pés, e,
com a voz de cana rachada, que o Ricardo Araújo Pereira tanto gosta de imitar,
saiu-se com esta:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Meu Presidente e meu putativo Primeiro-Ministro, um sonho é
apenas um sonho, o inferno não existe e o diabo que o Costa lhe atira à cara, é
só para assustar eleitoralmente, como se faz às criancinhas quando não querem
comer a sopa. Não se apoquente…» <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Pareciam as coisas mais serenas, quando Joaquim Sarmento,
para não ficar em pouco, levou o assunto para o divã da psicanálise:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Eu não concordo com a desvalorização dos sonhos, Freud é
que sabia e disse que eles deviam ser pensados e analisados à luz da razão…»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Ouvindo falar em luz, o Pinto da mesma julgou estarem a chamá-lo: «O
quê, o quê…»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">E Sarmento: «Não é nada, só estava a lembrar-me do Freud…»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Pinto Luz dava sinais de estar enfadado com a conversa e quis pôr ordem na mesa:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Vamos mas é ao que interessa, às eleições, esse tal Freud nem vota cá!»<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Montenegro, que ainda não sorrira, queria decifrar o sonho:
«Eu tenho de vos contar, companheiros, a dramaticidade do sonho. Por que me
aconteceu isto? Serão avisos para o futuro? Advertências de erros estratégicos
que podem comprometer a vitória eleitoral. Não sei. Mas que fiquei fora de mim,
fiquei. Então, vou contar:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">«Entrara no sono, alegre e divertido, tinha ainda nos
ouvidos os ecos da apresentação da nossa Aliança Democrática, a ADêsinha. Recordava as
palavras dos três líderes, as suas palavras cheias de uma vontade indómita de
cilindrar o PS e Pedro Nuno Santos, quando três ilustres me bateram à porta do sonho. “Quem me chama
a estas horas da noite, deixem descansar o futuro Primeiro-Ministro de
Portugal, caramba?” Voltaram a bater e uma voz imperativa gritou: “Ó tu, que fumas, abre
a porta do teu sonho…” Vi, então, e claramente visto, que eram três cavaleiros
do Apocalipse. Sim, que eles só anunciaram desgraças e vaticinaram o caos. Eram, vejam bem, Sá
Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Teles, que vinham pedir-me
explicações a propósito da ressurreição da ADêsinha. Estavam furiosos. O Sá Carneiro
era o mais raivoso. Gritava: “Patifes, canalhas! Isto é uma traição, uma
aldrabice!” Fiquei atónito, que ele era sempre tão elegante a dizer as coisas,
mesmo quando discordava, e agora até usava o vernáculo do sotaque do Porto. Eu
alto e ele baixote. Apontou-me o chão: “Ajoelha!” Ainda mal pusera os joelhos
em terra, e já ele me despachava um pontapé nas fuças, exclamando: “Toma, lá! Por
andares a desvirtuar a social-democracia, com a obsessão de destruíres o
Estado Social. O meu partido era transversal à sociedade portuguesa, por isso se
chamava Popular (e declinou Pê-Pê-Dê) Quiseram apropriar-se do meu legado
histórico, mas a porca vai sair-vos mal capada. A vossa derrota é tão certa como eu chamar-me xico. Aldrabões, Canalhas!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Freitas do Amaral tocou-lhe ao de leve no ombro: “Já chega, agora é a
minha vez”. E avançou </span><span style="font-size: large;">para mim. Eu lembrava-me dele, de criança, e agora tinha
diante de mim aquele corpanzil, aquela cara de poucos amigos, aquelas mãos ameaçadoras. “Que vergonha!
Três falhados da política, medíocres e irresponsáveis, decidiram roubar-nos a nossa AD para enganar o povo. Ainda por cima, não
respeitando nada! Olhe para o seu aspeto: nem sequer foi capaz de vestir um
sobretudo verde, igual ao meu, que era bandeira da AD. Pior que tudo: foi buscar aquele
caceteiro do Nuno Melo, que não tem uma ideia na cabeça e ajudou a dar cabo do CDS. Gosta da retórica do caceteirismo, mas é campino que não junta gado. Que Deus não lhes
perdoe!” Deu-me um puxão de orelhas, que nem as sinto.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Foi quando Gonçalo Ribeiro Teles deu uma sonora e longa
gargalhada, que nunca mais acabava. “Então, estes tipos têm a lata de trazer
para líder da ADêsinha deles, o pateta do Nuno da Câmara Pereira, como
representante do PPM, que Deus haja. Serventuário da extrema direita, arauto de um nacionalismo serôdio, é a
anedota em pessoa destas eleições. Ele já desafinava no fado, mas na política é um horror. As suas proclamações só dão vontade de rir”. E os três
voltaram às gargalhadas intermináveis. “Viva a ADêsinha das anedotas e dos
anedotas!”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Montenegro continuava branco. Quiseram sossegá-lo, mas ele
continuava com suores frios.<o:p></o:p></span></p><p><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">A narrativa do sonho ainda não terminara: “O que mais me doeu
e inquietou, é que a um canto, havia um fantasma que se ria muito. Era Passos
Coelho esfregando as mãos de contente.</span></span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-67389125227568324542024-01-07T18:34:00.003+00:002024-01-07T20:36:52.133+00:00IR AOS GAMBOZINOS<p> Conversa de café</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p>-- É, pá! Ouviste o Montenegro sobre o Pedro Nuno Santos e o Congresso do PS?</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">-- Ouvi, ouvi. E, pelos vistos, como acontece aos idiotas ou
às criancinhas, ele ainda acredita em gambozinos…<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">-- É melhor que vá à procura deles nas hostes desta AD de via reduzida, de que Francisco Sá Carneiro se envergonharia e até podia dizer: Vai aos Gambozinos, Montenegro, e não me chateies...</p><p class="MsoNormal">.</p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-85890987808283481522023-12-31T22:54:00.001+00:002023-12-31T22:58:36.964+00:00UM ANO QUE SEJA...<p> <i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Há anos, publiquei um poema que não
era outra coisa do que a busca da exigência de um mundo melhor, quando ao fim de doze meses
o calendário roda para um Novo Ano. É antigo, tão antigo que parece imemorial este desejo de aliar ao tempo novo um horizonte de esperança. Nos tempos
sombrios de hoje, com o genocídio em Gaza a toldar os dias de um drama cuja
crueldade poucos eram capazes de imaginar, reformulei o poema porque a
narrativa dos crimes e a sua tipologia – matar um povo enclausurado numa prisão de altos muros a céu aberto – obrigava a outro canto. Mais de dois milhões de pessoas arrastados e mortos como gado, é a barbárie servida como punição coletiva. Assim ficou, como imaginário vento
de utopia e felicidade ou apenas lembrança da infamante ignomínia mascarada de política.</span></i></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-size: x-large;">Um ano que
seja…</span><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja um sonho<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">de Paz em
todo o mundo <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja o fim<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">dos
mercadores da guerra<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja final dos crimes <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">contra a
Humanidade em Gaza<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que seja
a Palestina<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a regressar a casa, a sua pátria<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja em vez de lágrimas <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">sorrisos
dos meninos e das mães<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja o fim<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">do
assassinato das crianças<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja o termo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">do genocídio
dum povo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja um tempo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">mínimo de
esperança<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja epílogo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">da
vala-comum dos mortos sem rosto<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja a utopia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">da Liberdade e da razão<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja o sol<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">no
coração da Humanidade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">como o canto
da cotovia<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 19.9733px;">Um ano que seja<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 19.9733px;">como o hino da alegria</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;">Um ano que
seja</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">como o
sorriso da criança<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Um ano que seja</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">como a luz
que alumia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Um ano que
seja</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">como a paz
em cada dia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Um ano que
seja</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">sem a
pandemia da fome<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja fraterno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">sem
banalização da morte<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">sem ódio e
sem dor<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">a celebração
do amor <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">um amanhã
que cante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
seja<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">a medida do
Homem<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um ano que
espante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">toda a gente!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">31.12.23<o:p></o:p></span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-62132642707613352282023-12-26T15:33:00.000+00:002023-12-26T15:33:02.645+00:00PALAVRAS PARA UM AMIGO QUE PARTIU<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNkYYNBViF67Td72MjtwkX1mVoqUsA8i7IXqpkriPUfG_YW5OQ2gIskgcEHZx8xdPy8Cg1RnN_b4ot0t5108KY9kQBfLl8lov4V9_bI6bpbbQ7HP7UJf83775pBpQobMp3ExMdfKd3y3My-K-0KebTuDW-aZl-lqgcwZDoUe5jiQB59x4YIAdxf-LthQY/s2129/IMG_20231226_125121.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2129" data-original-width="996" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNkYYNBViF67Td72MjtwkX1mVoqUsA8i7IXqpkriPUfG_YW5OQ2gIskgcEHZx8xdPy8Cg1RnN_b4ot0t5108KY9kQBfLl8lov4V9_bI6bpbbQ7HP7UJf83775pBpQobMp3ExMdfKd3y3My-K-0KebTuDW-aZl-lqgcwZDoUe5jiQB59x4YIAdxf-LthQY/w188-h400/IMG_20231226_125121.jpg" width="188" /></a></div> <div> <i>Para a Maria Antonieta Flores</i></div><div><i> com um beijo solidário<br /></i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left;">O rumor do mundo,
deste mundo que é nosso habitáculo comum, já é tão cruel, que às vezes
dispensávamos a narrativa dramática dos acontecimentos que fazem a história dos
dias que nos couberam em sorte. Para a tristeza ser mais densa, ainda por cima,
chegam sem aviso prévio, as notícias inesperadas --.aquelas que nunca
desejaríamos ouvir – dos amigos que partem. Vêm rápidas, vestidas de silêncios,
às vezes de lágrimas, sinais da irremediabilidade da vida. Foi o que agora
aconteceu, quando um amigo me transmitiu, com a perplexidade do </span><i style="text-align: left;">memento</i><span style="text-align: left;">, a notícia do falecimento do
José António Gonçalves Rebordão, mais um a encurtar a fotografia da nossa
geração.</span></span></div><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nestas alturas as palavras, sempre pobres, pouco mais podem
do que traçar traços de memória, lembrar linhas de um tempo efémero, sulcos de olhares,
gestos, convivialidades fraternas. O Zé Tó, assim lhe chamavam os amigos, foi
sempre companheiro de jornada jovial e no seu rosto transparecia sempre uma
bonomia, que a sua imagem de marca era feita de sorrisos. Estar com ele, certo
e sabido, era sempre partilhar alegria, que ele gostava de desfiar memórias,
que trazia para a mesa das conversas para recriar o mundo dos afetos. Era um
bom contador de histórias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Este fundanense, que mesmo longe, em Lisboa, nunca deixou de
estar preso à sua terra, regressava muitas vezes para pôr a escrita em dia e
olhar a paisagem física e humana pela lupa da exigência crítica. Na Lisnave,
teve um papel importante na Comissão de Trabalhadores, que
cumpriu com espírito solidário, porventura a pensar como o mundo poderia ser bem
melhor se…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Agora, vejo-o a jogar à bola no bairro da piscina, a sua pequena
pátria. E lembro-me que era nesse universo urbano que o pai tinha uma fábrica
de pirolitos. Íamos lá, nas urgências da canalha, comprar berlindes, as mágicas bolinhas de vidro para jogarmos nos terreiros. O Zé Tó levava-nos
lá para enchermos a barriga de pirolitos. Putos que éramos, ficávamos fascinados
a olhar a roda mecanizada do enchimento daquelas garravas altas e achatadas no
gargalo para o berlinde vedar o líquido. Acho que a gasosa que sorvíamos era um belo
suplemento para as atividades desportivas, no parque contíguo à piscina, ou, se
fosse verão, para forjar campeões de natação. Vizinhos de camarata e de pelotão
na fábrica de oficiais milicianos, em Mafra, dou comigo a pensar que o Zé Tó,
sempre brincalhão, nos fazia sorrir dentro daquele desgraçado quotidiano. Ele dizia, para
acalmar os ânimos dos frágeis cadetes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">-- Já viram, como isto nos abre o apetite, para irmos comer o
bife monumental, na Toca do Caboz, na Ericeira. Todos os dias, indo lá, saímos
do inferno de Mafra e batemos à porta do paraíso! É que o bife do Caboz é
fantástico…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Zé Tó e as suas ironias a tempo inteiro. Escrevo esta
memória fugidia, como se lhe estivesse a dar um abraço de palavras para mitigar
saudades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">26.12.23<o:p></o:p></span></p><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;"> </div></span><p></p></div>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-71520336455633059762023-12-24T16:19:00.000+00:002023-12-24T16:19:09.340+00:00TANTOS ANOS, UM NATAL<p> </p><p>
</p><p class="MsoNormal">tantos anos passados e<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">ainda estás <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aí parado<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">no adro da igreja a ver <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">o madeiro do Natal a arder<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">tantos anos corridos e<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">continuas atónito fascinado<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">a olhar os homens à roda <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">da fogueira a cantar<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">estupendos homens esses<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">com vago teto sem lume de agasalho<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">sem sol de pão e muita servidão e<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">mesmo assim cantam<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">loas e louvores ao Menino-Deus<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">pobres reis magos sem presépio<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">cantam agradecidos o milagre<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">da vida que não têm<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">no fundo da memória <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">estás a vê-los aquecer<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">o corpo na fogueira. Estendem as mãos para o lume <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">e como uma prece ouves cantar <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">para as estrelas no céu<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">ó meu Menino Jesus<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">ó meu Menino tão belo<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">logo vieste nascer<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">na noite do caramelo</i>
<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">e sorriem ao vinho<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">que passa de mão em mão<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">e cantam outra vez e outra<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">para o coração da noite<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">esta canção<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">natal natal<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">filhós com vinho<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">não fazem mal!<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></p>
<p class="MsoNormal">ainda aí estás parado<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">pregado ao chão<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">do adro da igreja a olhar<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">fascinado<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">como se o tempo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">tivesse ficado suspenso<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">nos antigos dias da infância<o:p></o:p></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-42087282230654138202023-12-20T16:56:00.004+00:002023-12-22T12:18:52.219+00:00CONCERTO DE NATAL PARA GAZA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYKrOwoP9BMxq44oBMNjRrJxqgrr4o3749z-lN4yp0DsL2SQahYaB4TE3D2-TQyHOLQ1Ee7YIcN6yGxM7UqIQCUW_zM771FPW0M9Ua7pa4MvsbMREdX5WqxvhEhpASM6pc8U5_FTbc8WZkM4ng7ZKDYK_Fylb3NdcC0934LY7CF2HOlkrO4wlEyYrCj6M/s3000/IMG_20231216_113052_resized_20231220_034506661.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="3000" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYKrOwoP9BMxq44oBMNjRrJxqgrr4o3749z-lN4yp0DsL2SQahYaB4TE3D2-TQyHOLQ1Ee7YIcN6yGxM7UqIQCUW_zM771FPW0M9Ua7pa4MvsbMREdX5WqxvhEhpASM6pc8U5_FTbc8WZkM4ng7ZKDYK_Fylb3NdcC0934LY7CF2HOlkrO4wlEyYrCj6M/w640-h480/IMG_20231216_113052_resized_20231220_034506661.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p>Olho muitas vezes para os desenhos de Vasco, que guardo como preciosidades, para mitigar saudades que temos de nós próprios e perceber como o gume da memória por vezes nos traz ao confronto dos dias que passam para nos inquietar as sucessivas mortes da civilização a que vamos assistindo, num mundo que há muito parece ter desistido dos valores que definem a comum Humanidade. A longa narrativa da História é feita de crimes, de matanças de inocentes, de violências, de torturas visíveis e invisíveis, de guerras e cruzadas legitimadoras, de fogueiras contra heresias, de mares de sangue onde o coração da humanidade todos os dias é assassinado. Há, neste século XXI da vergonha, um colapso civilizacional, que nos oferecem como fatalidade do presente e ameaça do futuro, se futuro houver. Nos últimos dias cruzei várias vezes o olhar com o quadro dum artista genial chamado Vasco, e sempre que os olhos poisavam na força das suas linhas negras, pensava em Gaza e nessa outra banalidade do mal, na brutal realidade de um cemitério a céu aberto, onde a sombra da morte cobre tudo. Ela está presente, nas cidades feitas escombros, nos ferros retorcidos dos edifícios, nos milhares de cadáveres (quantos insepultos?) -- mulheres, velhos, crianças -- na esperança morta dos que esperam a sua vez. Há um povo encurralado, preso, alvo já pouco móvel, dos bombardeamentos assassinos, das bombas que caem sobre hospitais e escolas, Na filmografia da informação avisam que há cenas que podem ferir a sensibilidade dos que ainda olham e não fecham os olhos à tragédia humana sem limites. Há sempre sangue a pintar corpos de crianças, meninos embrulhados em sacos brancos de plástico, olhos esbugalhados de terror, e choros e gritos, a caligrafia do desespero.</p><p>A caricatura de Vasco é um grito desmedido, um silêncio, uma denúncia. Olho outra vez o quadro, enquanto na televisão generais e políticos assassinos, cujo nome não quero repetir, arvorados em estrategas de missão divina, dizem que a prioridade é matar e lavam as mãos no sangue da sua fanática teocracia. O requiem pela humanidade pode prosseguir. Os mortos estão quietos e silenciosos.</p><p>20.12.23</p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-63341537810904103642023-12-05T20:00:00.003+00:002023-12-05T20:00:37.203+00:00DO PEQUENO INQUISIDOR AO FANTASMA DOS NÚMEROS FALHADOS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCzsxE-ODBHdZ-bYxeDTaIAnP4uJ9ad5-MP-xPMKaYx8k-EO6eewOSDkdRCDPji8ZnxntZyT-EnaIKT7IXblNg449S5ZttHc2kJ5shGDosAKWTPsosAIEzz_1WNgRWmyaG5zP8LN5xuJFrAIFJy3z1c79ev7D82ojIbl54pZlFf01jAYp7eRjn0Rswwsw/s3000/IMG_20231205_194129_resized_20231205_074324665.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="3000" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCzsxE-ODBHdZ-bYxeDTaIAnP4uJ9ad5-MP-xPMKaYx8k-EO6eewOSDkdRCDPji8ZnxntZyT-EnaIKT7IXblNg449S5ZttHc2kJ5shGDosAKWTPsosAIEzz_1WNgRWmyaG5zP8LN5xuJFrAIFJy3z1c79ev7D82ojIbl54pZlFf01jAYp7eRjn0Rswwsw/w640-h480/IMG_20231205_194129_resized_20231205_074324665.jpg" width="640" /></a></div> <b>O Espantalho: cartoon de António publicado no "Expresso", em 2015</b><p></p><p>
</p><p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Os meus Leitores perdoarão que eu embacie uma realidade
já tão densa de névoas, com figuras e factos que, pelo absurdo ou desconforto
que transportam, ainda a tornam mais insuportável e disforme. A emergência do
quotidiano político, cadáver que as televisões devoram saborosamente como insetos
necrófagos, é abundante matéria informativa, umas vezes para rir, muitas para
chorarmos pelo cinismo ou a hipocrisia das palavras e dos atos. Acontecimentos
como a demissão do Governo, as aparições de Cavaco (regressa do túmulo com uma
facilidade que deixa Drácula corado de inveja, a narrativa dos agentes
políticos em transe já eleitoral, arautos de duvidosa moralidade, com vestes de
populismo xenófobo ou de cariz liberal, as orações de Montenegro, a atuação
enviesada e persecutória do Ministério Público, o caso das crianças gémeas luso
brasileiras, poderiam levar o comum dos mortais a pensar que se tinha metido na
máquina do tempo e regressado ao século XIX, quando Eça, na <i>Campanha Alegre </i>(<i>As
Farpas)</i> escrevia que “o país perdeu a inteligência e a consciência moral” e que
“já ninguém crê na honestidade dos homens públicos”.</span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Nesta trama da atualidade, os acontecimentos desfilam
perante nós, como se estivéssemos a assistir a uma comédia de costumes ou a
um filme de humor negro. Que vimos e ouvimos nós, nessas narrativas de circunstância? O
senhor Luís Montenegro, que se diz preparado para ser Primeiro-Ministro, e tem
afinal muito terreno baldio em matéria de conhecimento histórico sobre o país
que quer governar. Esperava-se mais dele, como ele confirmou no diagnóstico que
fez de si próprio, no Congresso do PSD, em Almada. Numa assembleia entusiasmada,
onde, de costas para a multidão, estava a estátua hirta, mas de carne e osso,
de um Cavaco que parecia regressado do Além, Montenegro, sempre com aquele
sorrisinho circense a bailar num rosto apalermado, discursou longamente, menos
para o seu partido, e mais para o país, como se dissesse: tomem lá como
aperitivo eleitoral. De que se havia de lembrar o homem? De parvoíces! <o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Querendo fazer humor com a História próxima, misturando
ironia com anátemas, falou em “gonçalvismo”, comparou Pedro Nuno Santos ao
“camarada Vasco” e elegeu como sua “Cinderela”, Mariana Mortágua. Este
abastardamento da factualidade faz lembrar aquelas fábulas sobre o tempo em que
os animais falavam. A isto, resolveu Montenegro acrescentar a metáfora dos
cristãos-novos a propósito dos socialistas que reclamam para si o êxito das “contas
certas” e da “redução da dívida pública”. Avisou ele: “Quando esses cristãos
novos nos vierem dizer isso, convém dizer que <b>as contas
equilibradas para o PSD são um pressuposto,</b> uma condição da política
pública, <strong>não o fim das políticas públicas</strong>", E elevando
o tom, como faziam os Inquisidores nos sermões dos autos da fé, denunciou que
esses cristãos novos, "como normalmente acontece aos que não professam
determinada fé até uma fase tardia, depois são mais fanáticos". De facto, fanáticos eram os outros, a santa Inquisição que os mandava para as fogueiras.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Dois dias depois, outra “aparição” de Cavaco Silva, desta
vez em papel de jornal. Foi no “Público”, num longo texto, de quase duas
páginas, intitulado “Contas Certas, a armadilha para iludir os portugueses”. O
grande mestre dos números, prefere, pois, as contas erradas… Mas o mais
estranho de toda a narrativa é justificá-la, fazendo de parvos os portugueses.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Vital Moreira, no blogue <i>Causa Nossa</i>, desmonta a patranha
da Cavacal figura: “Para Cavaco Silva, as “contas certas” eram uma opção certa
quando a direita precisou de justificar os cortes no Estado social, mas
deixaram de o ser quando um Governo de esquerda conseguiu a proeza de as
conciliar com avanços do Estado social. Quando o sectarismo político leva a
melhor sobre a objetividade, o resultado são teses politicamente mesquinhas
como esta”.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">A estátua nem sempre fala. Desta vez, à saída do
Congresso do PSD, disse uma coisa da maior importância para o futuro do país: “A
minha mulher está à minha espera para jantar e quero juntar-me a ela”.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;">Era a sua angústia para o jantar.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="color: #2f2f2f;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-57326623084543423962023-12-01T17:17:00.003+00:002023-12-01T17:17:47.882+00:00QUANDO O PRIMEIRO DE DEZEMBRO ERA PERIGOSO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggAhWn8PcH84kWg5WfkPiKZC5Udow2kdbf7BG4RjrLasQkSq0PFlVe8M2ip6Wg8yiC_fpbsgqww0vMzElzT5nyjiZgyQ2rABIf5dqj721zCgP7mpqFZrg29_B0MgEFe-6rb-J9nWDV9RP-CzsrF7Fwtif97_KF6Zs1XPDD20rz-JvZDy3TwtFOBGc19B0/s400/port%20celebremos.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="301" data-original-width="400" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggAhWn8PcH84kWg5WfkPiKZC5Udow2kdbf7BG4RjrLasQkSq0PFlVe8M2ip6Wg8yiC_fpbsgqww0vMzElzT5nyjiZgyQ2rABIf5dqj721zCgP7mpqFZrg29_B0MgEFe-6rb-J9nWDV9RP-CzsrF7Fwtif97_KF6Zs1XPDD20rz-JvZDy3TwtFOBGc19B0/w400-h301/port%20celebremos.png" width="400" /></a></div><br /><p></p><p><span style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif;">A história das pequenas coisas tem, muitas vezes, uma importância que
excede muito a geografia dos acontecimentos. Há, por isso, um dever de memória
e uma exigência de verdade, que impõem essa evocação de factos e realidades
para que o limbo do esquecimento não os mate de vez Essa tarefa, que é do mesmo
passo uma responsabilidade cívica e social, fez-me, hoje, atravessar a bruma do
tempo para reviver este dia 1.º de Dezembro, há 55 anos, no Fundão, como se as
palavras da narrativa fizessem viver, outra vez, os acontecimentos. É uma
história de proveito e exemplo para não esquecermos os tempos ominosos que
vivemos, antes do 25 de Abril, e que os mais jovens da tribo, hoje, têm
dificuldade em compreender, sobretudo pelo carácter absurdo em que o reino da
estupidez do salazarismo teimava em viver. Não resisto, pois, em retomar o
essencial de um texto que escrevi em 2015, precisamente para que conste, em
louvor da memória. Disse então:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif;"><o:p> </o:p></span><i style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif;">“Há coisas que não se
esquecem porque a memória tem essa capacidade fantástica de inscrever nos
passos da vida aquilo que gradua como essencial, no plano das emoções e dos
acontecimentos. Nesse inventário, às vezes de pequenas e grandes histórias,
outras vezes de vivências dramáticas dos quotidianos, mas quase sempre esse
regresso fragmentário ao passado ensina-nos muitas coisas, sobretudo que o
tempo, na ampulheta da sua unidimensionalidade indiscutível e certeira, pontua
os dias ou as noites de sobressaltos, quando não de pequenas esperanças que não
eram outra coisa senão vagalumes na noite escura.</i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif;"><i>
Ao ritmo da sua dimensão, o Fundão teve os seus pequenos e grandes
sobressaltos, alguns de dimensão tão absurda e irracional que hoje os mais
jovens, que viveram sempre em liberdade, têm de fazer esforços de grande imaginação
para poderem entender a realidade de então em toda a plenitude. Então, a vila
que o Fundão era viveu um desses instantes, de brutalidade fascista, tão
insólito que a população inteira, ferida no seu orgulho, manifestou fundo uma
indignação que não se apagou tão depressa.<br />
No Fundão faz-se todos os anos, à última badalada da meia noite do dia trinta
de Novembro, na dobra para o 1.º de Dezembro, uma manifestação popular em que
se celebra a independência. O pessoal junta-se no Pelourinho, fronteiro à Câmara,
e com a banda a ajudar, tocam-se e cantam-se o hino nacional e o da
Restauração. É imemorial este "Portugueses celebremos..." ninguém é capaz
de adivinhar o gesto coletivo originário, mas costuma-se dizer, como atestado
de verdade e antiguidade, que já o avô do meu avô falavam desta coletiva
afirmação de independência. Imemorial, portanto, tanto que a espuma dos dias
nunca conseguiu diluir, fizesse chuva ou nevasse, o que às vezes acontecia...<br />
É verdade que o país era uma prisão real ou virtual, como agora se diz, e, como
dizia o Alçada, quando às vezes tocava a campainha não era propriamente o
leiteiro ou o padeiro, mas a PIDE para prender pessoas de bem. E é verdade,
também, que na multidão em movimento surgiam ousados vivas à independência
nacional ou (mais baixinho) à liberdade.<br />
Veio por essa altura para o Fundão um comandante da PSP, de nome Câncio (ou
Canço?), um tipo de figura sinistra, óculos de fundo da garrafa, a que a farda
dava facilmente uma imagem daqueles serventuários menores nazis, que apareciam
nos filmes. Ganhara fama de especialista na repressão aos estudantes, em
Lisboa. E, de facto, o sujeito, mal assentou lugar no Fundão, logo começou a
fazer malfeitorias, em rusgas e vigilâncias políticas (como no 5 de Outubro),
que mostravam a qualidade da besta e o seu carácter demencial sobre a forma
como interiorizava a repressão fascista.<br />
Então, na manifestação do 1.º de Dezembro, há 55 anos, atuou. Pela calada da
noite carregou sobre os manifestantes (que se reagruparam) e na rua João Pinto,
onde se situava o Posto, barrou a via com guardas armados de metralhadoras,
obrigando a dispersar os manifestantes (eu também lá ia), com tiros de
intimidação. Foi uma noite de sobressalto, mas com saborosas vitórias finais.<br />
Para a história ficar completa: houve meia dúzia de cidadãos que no dia
seguinte os agentes identificaram para serem remetidos a tribunal. E foram. O
delegado do Ministério Público, era o dr. Laborinho Lúcio que centrava as
questões no carácter histórico (e imemorial) do acontecimento, e o juiz, o dr.
José Marques, que, lembro-me muito bem, perguntou ao polícia Veríssimo (que
corava com facilidade):<br />
-- Há quantos anos está o sr. cá na terra?<br />
E ele:<br />
-- Ora, senhor doutor, há mais de vinte...<br />
-- Nestes anos todos em que está no Fundão, lembra-se de algum ano em que esta
manifestação não tenha sido feita?<br />
-- Oh, não, Senhor doutor, é todos os anos!<br />
E o juiz:<br />
-- Então, qua andaram os senhores a fazer?<br />
Foi tudo absolvido, claro.<br />
E julgo poder fazer aqui uma confidência que, há anos, o dr. Laborinho Lúcio me
fez, numa conversa à volta do meu e também seu Fundão. Disse-me ele que, por
esse tempo, escrevera ao seu superior hierárquico (salvo erro para Coimbra)
explicando quem era a figura do Câncio ou Canço ou como raio o gajo se chamava.
E sublinhava que esse chefe da Polícia tinha vindo para o Fundão -- não para
resolver casos, mas para criá-los.<br />
Estou em crer que isso terá contribuído para ter recebido guia de marcha.<br />
Na altura, a Censura impediu que o caso fosse noticiado. Esta prova de Censura
é um texto do "Jornal do Fundão", que pergunta: "É proibido
festejar o 1.º de Dezembro?".</i><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt;"><span style="color: #333333; font-family: Helvetica, sans-serif;">Escrevo isto, hoje, 1
de Dezembro de 2023. O gesto imemorial continua a repetir-se. Outros rostos,
outra gente, continuará a reunir-se à volta do Pelourinho. Continuará a ouvir-se o som das doze badaladas, e lá
estarão, como os de 1968, a celebrar o 1.º de Dezembro com a determinação de
sempre. "Portugueses celebremos..."<span style="font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-3465940712303592012023-11-28T17:04:00.005+00:002023-11-28T17:17:41.547+00:00UMA DOR CHAMADA GAZA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2S0PGbfCkk_mu4B9FuM7jr76dn7EE3wqUkUhyphenhyphenQcX6SrfsVF29eiUZeTR8xe3b7O0vBZ8Y1A8L8UTVC3C4M4WuOULOCshyphenhyphenmDP3DMxVtXIb_T_EzVirGhc_4hbX2nJIfJWVEO3cynFad2Ak1wKtna0359Tnalqa_2Lxx7qyaV-UKeakhzvvc4FCHUxNrOk/s686/meninos%20de%20gaza%201.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="461" data-original-width="686" height="430" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2S0PGbfCkk_mu4B9FuM7jr76dn7EE3wqUkUhyphenhyphenQcX6SrfsVF29eiUZeTR8xe3b7O0vBZ8Y1A8L8UTVC3C4M4WuOULOCshyphenhyphenmDP3DMxVtXIb_T_EzVirGhc_4hbX2nJIfJWVEO3cynFad2Ak1wKtna0359Tnalqa_2Lxx7qyaV-UKeakhzvvc4FCHUxNrOk/w640-h430/meninos%20de%20gaza%201.webp" width="640" /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQVq8bqxk_DEnRt6pgDz59Icg0BT6PxttFYPvzpMJ_oto96EAeLssjcNAQzNvyGGc0NyFdVkG1OIDnbx_xhcQROCipP9kvaV6urj7d4KkpoRSpQMcHrTi3QDiQKTtvDig5hKMRKFgkQYdl_CndqVvIWhE1YsiR3R_rRrH9dL41XX1cfyZKUfhAlexmCNw/s1024/menino%20de%20gaza.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="573" data-original-width="1024" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQVq8bqxk_DEnRt6pgDz59Icg0BT6PxttFYPvzpMJ_oto96EAeLssjcNAQzNvyGGc0NyFdVkG1OIDnbx_xhcQROCipP9kvaV6urj7d4KkpoRSpQMcHrTi3QDiQKTtvDig5hKMRKFgkQYdl_CndqVvIWhE1YsiR3R_rRrH9dL41XX1cfyZKUfhAlexmCNw/w640-h358/menino%20de%20gaza.jpg" width="640" /></a></div></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Uma dor chamada Gaza<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Há uma dor chamada Gaza no meu e teu coração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">A morte tomou tudo: crianças, velhos, mulheres,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">fazedora de limpezas étnicas ou genocídios<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">tanto faz, o destino já está traçado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Há um povo bombardeado<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">um gueto prisão a céu aberto<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">um <i>apartheid</i> sufocado de tragédias,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">há crianças mortas à flor da rua<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">ou esmagadas sob os escombros<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">das cidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Ninguém escapa à sombra da morte<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">ela está em todo o lado,</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">vagos nomes vagos rostos desaparecem<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">na voragem</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">a vala comum repleta </span><span style="font-size: large;">de gente </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">que cometeu o crime de existir.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Os ainda vivos esperam vez estremecem <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">na fila dos cadáveres adiados<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">a morte pode vir a qualquer instante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">nunca se sabe,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">os pássaros fugiram para um país distante</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">e as flores murcharam nos jardins.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">A civilização é um corpo putrefato<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">morremos todos sob a bomba ou o morteiro<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">que destroem hospitais escolas casas<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">tudo o que é humano na Palestina.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">O deus dos matadores e o deus das vítimas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">onde estão, alguém sabe o paradeiro?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Quantas vezes já morremos nos olhos parados <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">dos meninos assassinados em Gaza?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">A morte tomou tudo à nossa vista<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">a lâmina do ódio e da crueldade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">rasga fundo em cada hora ou minuto<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">o frágil coração da Humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">20.11.23</span></p><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-4285002623440830462023-11-16T10:17:00.005+00:002023-11-16T10:17:58.377+00:00A BARBÁRIE TODOS OS DIAS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyMLv4kr3stphuP-ZLMAxJfFN69sQPjgsFhAEVA980j3d8ei_MMd80qtL8mrb22KBp3xSTdspcGLduigzFcvgH317pfpAj08N512wbb8ftVkZpfXjYribS9t4e2gN9rB1Q6Mg6NaF1bsA2Hqkn7FkZ5gDlkwnmJ62CJZdNfL4_eBGhuLzMqwAaatt9tYM/s795/ogrito-cke.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="795" data-original-width="630" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyMLv4kr3stphuP-ZLMAxJfFN69sQPjgsFhAEVA980j3d8ei_MMd80qtL8mrb22KBp3xSTdspcGLduigzFcvgH317pfpAj08N512wbb8ftVkZpfXjYribS9t4e2gN9rB1Q6Mg6NaF1bsA2Hqkn7FkZ5gDlkwnmJ62CJZdNfL4_eBGhuLzMqwAaatt9tYM/w509-h640/ogrito-cke.webp" width="509" /></a></div> <b> Edvard Munch, O Grito</b><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Os meus
olhos foram dar com um texto de há mais de dez anos, que incluí no Volume II de
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónica do País Relativo – Portugal, Minha
Questão</i>, que falava na anquilose civilizacional e da vulnerabilidade da
consciência moral, ao redor do Mundo, onde quer que o Homem ponha pé, e do seu engenho para ferir de crueldade o coração da Humanidade. Na altura, escrevendo
sobre malfeitorias que a História regista longamente no seu interminável inventário de
crimes contra a humanidade, acolhi-me à ironia de Mark Twain sobre a bestialidade humana, quando disse
ter sido pena que Noé e os seus acompanhantes não tivessem chegado atrasados à
barca divina que os salvou do dilúvio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Para
contrariar esse pessimismo sobre o destino planetário, agarramo-nos à esperança, iluminada
pelas palavras de Antígona, repetindo que não há coisa mais maravilhosa do que o
Homem. O que prevalece, no entanto, na temporalidade humana, é a desmedida e
antiquíssima capacidade para o crime coletivo, para os terrorismos (incluindo,
claro, os dos Estados), a liquidação sumária de populações. Não faltam descidas
a infernos reais e concretos, fabricados como políticas por outros meios. onde a
morte é a grande triunfadora nos escombros dos dramas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Este é o
tempo dos terrorismos, da matança dos inocentes. Às vezes, basta uma palavra
para enunciar toda a tragédia humana. Apenas uma. Batemos as sílabas e respiramos
lágrimas e sangue. Algumas passam rentes ao indizível como Auschwitz ou Holocausto, a que se poderia juntar Gulag; outras
são memórias dolorosas de cemitérios sem luar: Guernica, Oradour, Dresden,
Stalinegrado… tantas. Todos os dias atualizamos o dicionário dos crimes contra
a humanidade, e palavras (algumas já persistentes) surgem na caligrafia das
carnificinas avulsas que vão por aí. Vemos e lemos as guerras que ocorrem na Ucrânia ou em Gaza e podemos
pensar, sem receio de engano, que o poema de Jorge de Sena, <i>Carta a Meus Filhos
Sobre os Fuzilamentos de Goia</i>, é cada vez mais atual. <i>Não sei meus filhos que Mundo será o vosso...</i> Voltamos a balbuciar palavras de sangue e terror: Kibutz Nir Oz, e, logo depois Gaza, onde o genocídio é uma lâmina no quotidiano
de milhões de palestinianos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A morte é a
sombra de um povo, condenado da Terra, naquelas cidades bombardeadas que nós vemos desfilar perante os nossos olhos. A vala comum enche-se de
crianças, mulheres, velhos. Podemos ser indiferentes às imagens de hospitais e escolas bombardeadas, a este tempo em que reclamar ajuda humanitária parece um crime? Podemos esquecer os olhares de terror e de medo de crianças no meio das bombas vindas do céu ou os bébés fechados em sacos brancos de plástico? Já não há tempo para a compaixão e a piedade. Festejam-se as punições coletivas, o assassinato de um povo a sangue frio, o louvor da morte. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Parece que o
fio da História nos quer ensinar que foi sempre assim. No outro dia, li um
curioso artigo de Irene Vallejo, no “El *Pais”, que falava, nestes tempos que
continuam obscuros, de “carne da memória”, refletindo sobre o que leva os
homens a transformarem-se em feras e a exercitar a barbárie como prática comum e inevitável. Lembrava ela que “os
heróis clássicos praticavam com esmero a crueldade face aos inocentes: Ulisses
atirou um bébé do alto das muralhas”. E acrescentava que o filósofo Séneca,
escreveria nas suas <i>Epístolas a Lucilio</i>, o seguinte: “Castigamos os homicídios
individuais, mas que dizer das guerras e do glorioso delito de arrasar povos
inteiros? Elogiamos crimes que se pagariam com a pena de morte porque os
cometem quem traz insígnias de general. O ser humano, o mais doce dos animais,
não se envergonha de fazer a guerra e de encomendar a seus filhos que a façam”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Passam
imagens de Gaza nas televisões. Não é possível ignorar o horror da catástrofe
humanitária produzida por Israel, com a cumplicidade de muitos, dos Estados
Unidos à Europa. Têm as mãos manchadas de sangue. É a negação do Homem elevada
ao infinito reproduzida no tempo. Os dias incendeiam-se de terror e crueldade.
A ironia de Mark Twain, com a caricatura de que talvez tivesse sido bom Noé ter
chegado atrasado a barca salvadora, já não nos faz sorrir, mas chorar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> 16.1.23</o:p></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-19470746857838421452023-10-26T15:07:00.002+01:002023-10-27T19:07:14.332+01:00"CRUCIFIQUEM" O GUTERRES!<p><span style="font-family: courier;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: courier;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhuGy-ScjcjjePP7i-5NPbqmLJrLQvecMbanZ2-LZq4NaTvux-yi4WpTErxBoaAuo1UmTzXCXOLxtEyYejRYuzRsNd8yEh8SWv02n8FwFNeh8ZdmbjVFX7lZUiCiWpU_7c_AiWDWNHJoe-eC6XTzoHGwwleBRN0klqEzo8z7fdKf5vFkeH-XYaMqnR-5wI" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="360" data-original-width="360" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhuGy-ScjcjjePP7i-5NPbqmLJrLQvecMbanZ2-LZq4NaTvux-yi4WpTErxBoaAuo1UmTzXCXOLxtEyYejRYuzRsNd8yEh8SWv02n8FwFNeh8ZdmbjVFX7lZUiCiWpU_7c_AiWDWNHJoe-eC6XTzoHGwwleBRN0klqEzo8z7fdKf5vFkeH-XYaMqnR-5wI" width="240" /></a></span></div><span style="font-family: courier;"><br /></span><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Se tivessem o rigor e a verdade dos sábios talmudistas
da Bíblia, o embaixador de Israel na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas,
escudeiro no areópago do lamentável ministro dos Negócios Estrangeiros
israelita, o Estado de Israel, com os seus falcões e um primeiro-ministro pouco
recomendável, cujo nome não quero pronunciar, não tinham dado o triste e
raivoso espetáculo de reação às palavras de António Guterres sobre a anquilose
civilizacional que devasta o Médio Oriente. Pediram a demissão de António Guterres e negam vistos aos funcionários da ONU em funções humanitárias. Poucas vezes se assistiu a uma
forma tão grosseira, a raiar a estupidez, de manipulação e desvirtuamento dum
texto, assassinando-o para iludir a opinião pública. Bem sabemos que a mentira
é, às vezes, uma espécie de esperteza dos canalhas, sobretudo quando colocam a
máscara de um patrioteirismo onde não cabe a ética. Mas ver este tipo de
comportamento na Organização das Nações Unidas, e da forma como aconteceu, é, de certamente
atacar o coração da Paz, ferindo os princípios humanitários que devem ser a
breve respiração do mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Então a que se deve a imediata crucificação verbal do
secretário-geral da ONU? Que tempos são estes em que falar na verdade da
História e defender a mínima humanidade para milhões de pessoas vivendo num
arremedo de campo de concentração a céu aberto, parece um crime?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Bem sei que há, nestas questões, em que os ínvios
caminhos da Informação (vejam-se as televisões) ampliam numa emoção desmesurada
(e muitas vezes acéfala) reproduzem o tempo dos homens e dos outros, estes
habitualmente catalogados como sub-gente ou mesmo não-gente, vítimas
continuadas de barbárie. Os outros… Os condenados da Terra…<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Quem conhece António Guterres sabe que a sua biografia tem sido marcada por uma incessante batalha a favor do avanço
civilizacional, na afirmação plena de que os Direitos Humanos devem ser a
medida de todas as coisas. Se alguém lutou pelos refugiados, contra as
desumanidades de guerras faladas ou esquecidas, foi ele, na perspectiva que,
dando uma oportunidade à Paz, se construía a felicidade mínima possível. É uma figura moral.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span>Foi disso que falou na ONU, </span><span style="color: #333333;">condenando mais uma
vez os brutais ataques do Hamas a Israel, sublinhando que os atos de 7 de
outubro não justificam o “castigo coletivo” à população de Gaza. Persistentemente, tem levantado a voz exigindo a libertação dos reféns e a pedir um cessar fogo para ajuda humanitária à população de Gaza, que está a ser dizimada.<br />Limitando-se a
formular uma evidência histórica, Guterres assinalou que “a violência do Hamas
não surgiu do vácuo”, lembrando “a ocupação palestiniana, que já dura há mais
de 56 anos”. E destacou como vital manter princípios claros, a começar pelo
respeito e proteção da população civil. Por isso, António Guterres pediu
que as partes cumpram e respeitem suas obrigações de acordo com o direito
internacional humanitário, incluindo a proteção de hospitais e a
inviolabilidade das instalações da ONU, que abrigam mais de 600 mil palestinianos.
"As queixas do povo palestiniano não podem justificar os ataques horrendos
do Hamas. E esses ataques horrendos não podem justificar o castigo coletivo do
povo palestiniano. Neste momento de perigo grave e iminente, não podemos perder
de vista o único alicerce realista para uma verdadeira paz e estabilidade: a
solução de dois Estados".<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Aqui está o “crime” de Guterres: louvar a vida, contra
a morte. Podem os fanáticos, de um lado ou do outro, rosnarem as suas fúrias,
bombardearem populações indefesas, arrasar cidades?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span><span style="font-family: times; font-size: medium;">Num poema de Egito Gonçalves que, aliás, dá o título a
este blogue, fala-se de resistência, de fome, de cerco, de esperança. Acho que
os dias de hoje são bons para o relermos, porque a poesia ainda é das coisas que
pode, por instantes, fazer-nos acreditar no futuro.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: medium;"><i><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Aproveito a tua neutralidade,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">o teu rosto oval, a tua beleza clara,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">para enviar notícias do bloqueio</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">aos que no continente esperam ansiosos.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Tu lhes dirás do coração o que sofremos</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">nos dias que embranquecem os cabelos...</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">tu lhes dirás a comoção e as palavras</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">que prendemos - contrabando - aos teus cabelos.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Tu lhes dirás o nosso ódio construído,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">sustentando a defesa à nossa volta</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">- único acolchoado para a noite</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">florescida de fome e de tristezas.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Tua neutralidade passará</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">por sobre a barreira alfandegária</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">e a tua mala levará fotografias,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">um mapa, duas cartas, uma lágrima...</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Dirás como trabalhamos em silêncio,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">como comemos silêncio, bebemos</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">silêncio, nadamos e morremos</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">feridos de silêncio duro e violento.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Vai pois e noticia com um archote</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">aos que encontrares de fora das muralhas</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">o mundo em que nos vemos, poesia</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">massacrada e medos à ilharga.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Vai pois e conta nos jornais diários</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">ou escreve com ácido nas paredes</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">o que viste, o que sabes, o que eu disse</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">entre dois bombardeamentos já esperados.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Mas diz-lhes que se mantém indevassável</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">o segredo das torres que nos erguem,</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">e suspensa delas uma flor em lume</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">grita o seu nome incandescente e puro.</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">Diz-lhes que se resiste na cidade</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">desfigurada por feridas de granadas</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">e enquanto a água e os víveres escasseiam</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">aumenta a raiva</span><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /><span style="font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">e a esperança reproduz-se</span></i><br style="box-sizing: border-box; font-family: Baskerville, "Palatino Linotype", "Times New Roman", Times, serif; font-size: 18px; margin: 0px; text-align: left; white-space-collapse: preserve;" /></span></span><span style="color: #333333; text-align: left;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Porque é bom continuarmos a pensar naquilo que, há alguns
séculos, um poeta inglês, John Donne, nos deixou: “A morte de qualquer homem diminui-me,
porque faço parte da Humanidade. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por nós.”</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Pensemos nisso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">26.10.23<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span face="Helvetica, sans-serif" style="color: #333333;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-44663001287949650262023-10-24T15:12:00.003+01:002023-10-24T15:12:28.940+01:00À VOLTA DOS CENTENÁRIOS: OS TEMPOS DE EUGÉNIO E DE EDUARDO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbE2uIwJzbdDqC7S2rOBr-zPyeszUFQyv6YxocuI8Fybuq8DrRT08oyfXyzqVREKN2tIeINxC-CuaADEC3ElcXp3gE4Q2eD-Ods2IQ7kvBNMzcE7a7e52Wz1DA_FBpdSFo5qyfpWncahX8tqRjYDSiid2coa76d3ALyjOwftXrjWmEMRev3YNUVbiWs8w/s4080/1698081842141.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3072" data-original-width="4080" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbE2uIwJzbdDqC7S2rOBr-zPyeszUFQyv6YxocuI8Fybuq8DrRT08oyfXyzqVREKN2tIeINxC-CuaADEC3ElcXp3gE4Q2eD-Ods2IQ7kvBNMzcE7a7e52Wz1DA_FBpdSFo5qyfpWncahX8tqRjYDSiid2coa76d3ALyjOwftXrjWmEMRev3YNUVbiWs8w/w400-h301/1698081842141.jpg" width="400" /></a></div> <b> Com o Prof. Arnaldo Saraiva na Biblioteca Nacional, em Lisboa</b><p></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4I9qF7IQTQjWiD9nVWExKrP3GM78JUFj6fxOJD-kI48f4dRXnspuF2TrkIGlm5H0YZPT8A96-5Vkqa6cX9kxB1hXqL6DHNOhAPLEoxmjo0y8xt4l-ayOXFBTUeFfQq27m8M-72__g0AcZsKMDpUFRL9GiVKnpFAosKZc5URNc5A0UU9_f061_MQJMY6U/s3000/IMG_20231018_180604_resized_20231023_062245010.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="3000" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4I9qF7IQTQjWiD9nVWExKrP3GM78JUFj6fxOJD-kI48f4dRXnspuF2TrkIGlm5H0YZPT8A96-5Vkqa6cX9kxB1hXqL6DHNOhAPLEoxmjo0y8xt4l-ayOXFBTUeFfQq27m8M-72__g0AcZsKMDpUFRL9GiVKnpFAosKZc5URNc5A0UU9_f061_MQJMY6U/w400-h300/IMG_20231018_180604_resized_20231023_062245010.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-size: 12pt;"><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;"> <b>Centenário de Eduardo Lourenço celebrado na Universidade de Salamanca</b></span></p>Por estes dias, o fio da memória, que parece sempre um
tempo breve e fragmentário, trouxe mais uma vez até mim a lembrança de Eugénio
de Andrade e de Eduardo Lourenço. Há certamente em comum com os dois muitas
coisas: a amizade entre o poeta e o ensaísta; a circunstância de serem
originários de pequenas aldeias do interior português (Eugénio de Póvoa de
Atalaia, terra de camponeses da Beira Baixa; Eduardo de S. Pedro de Rio Seco,
no planalto de Riba-Côa, a olhar para Castela); terem nascido no mesmo ano, 1923,
há um século,. Para mim, ter sido Amigo dos dois, ter tido a sorte de partilhar as suas palavras, é tão grande privilégio que o tributo de gratidão a pagar em sua memória parece sempre de pobres palavras</span><p></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Comemoram-se, pois, o centenário de ambos, tempo de lembrar
as obras e o lugar cimeiro que os dois ocupam na cultura portuguesa, um na
poesia, outro no pensamento. As comemorações dos centenários, assumindo um
carácter evocativo das figuras, são, também, uma oportunidade para lembrar as
suas obras, interpretando-as e decifrando-as na polifonia dos seus sentidos,
debatendo-as na perspectiva de futuro que elas, afinal, inventaram, e, sobretudo
lendo-as e estimulando o prazer da sua leitura por novos públicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Nessas andanças andei eu, participando no Congresso
Internacional sobre Eugénio de Andrade, que se realizou na Gulbenkian e na
Biblioteca Nacional, organizado pela FLUP (Faculdade de Letras da Universidade
do Porto). Apresentei lá uma comunicação, “Eugénio: Viagem à Materna Casa da
Poesia”, centrada na relação da poesia do autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As Mãos e os Frutos</i> com a Beira do “sol de camponeses” e da “terra
de palha rasa”, povoada das “mulheres de preto até à alma”, onde se ouve” a
matinal restolhada dos pardais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Quanto a Eduardo Lourenço, o seu centenário foi também
assinalado pela Universidade de Salamanca, e o CEI (Centro de Estudos
Ibéricos). No Teatro Juan del Encina, realizou-se a projeção do documentário
“Regresso sem Fim”, de Anabela Saint-Maurice, e depois uma sessão em que
intervieram alguns dos premiados com o Prémio Eduardo Lourenço. Sob a
presidência da Prof. Maria Isabel Martin Jimenez, o painel integrou Angel Marcos
de Dios, Valentin Cabero, António Saéz Delgado e eu próprio, e todos
sublinharam as ressonâncias da obra de Eduardo Lourenço na articulação de um
iberismo de novo tipo e na sua relação com a Europa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Deixo aqui os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">links </i>com
as minhas intervenções nos dois acontecimentos para a eventualidade dos meus leitores desejarem ler.</span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><a href="http://www.fernandopaulouro.com/2023/10/eugenio-viagem-materna-casa-da-poesia.html" target="_blank">http://www.fernandopaulouro.com/2023/10/eugenio-viagem-materna-casa-da-poesia.html</a><br /></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;"><span color="rgba(0, 0, 0, 0.52)" face="Roboto, RobotoDraft, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 14px;"><a href="http://www.fernandopaulouro.com/2023/10/navegando-com-luz-na-obra-de-eduardo.html" target="_blank">http://www.fernandopaulouro.com/2023/10/navegando-com-luz-na-obra-de-eduardo.html</a></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">24.10.23</span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-31195404422605776982023-10-24T15:07:00.003+01:002023-10-24T15:43:40.839+01:00EUGÉNIO: VIAGEM À MATERNA CASA DA POESIA<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBo1YP0huuCUUBCSnBIOXlRjKatGWvGwB0FLBmPEG8lQBMcOA4YpU2QS7QMMnKFi-klJfuaomQoRV7i6kjmJVGm3rZ94VAltpVOkz7vyzLZmOs4OSFpXeDuSXVzMOrxFv2B2o_uZOIoGbrP7B0NZJoWpypzfm4rxh4EVuXNJsMYzk4x8-Svd5gXghvaXw/s1200/eugenio%20foto.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="1200" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBo1YP0huuCUUBCSnBIOXlRjKatGWvGwB0FLBmPEG8lQBMcOA4YpU2QS7QMMnKFi-klJfuaomQoRV7i6kjmJVGm3rZ94VAltpVOkz7vyzLZmOs4OSFpXeDuSXVzMOrxFv2B2o_uZOIoGbrP7B0NZJoWpypzfm4rxh4EVuXNJsMYzk4x8-Svd5gXghvaXw/w400-h210/eugenio%20foto.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span><p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um poema cresce inseguramente<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Na confusão da carne.<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Herberto Hélder,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Colher na Boca<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><br /></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">Face à
obra de Eugénio de Andrade, devemos talvez interrogarmo-nos, como questão
prévia, sobre a forma de agitar a arte dos seus versos, perscrutar a sua poesia
nas raízes mais fundas e afluentes do seu ser, perceber o </span><i style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-style: normal;">obscuro domínio, </i><span style="font-size: 12pt;">onde escreveu e inscreveu a sua obra. Encontramos,
porventura, a melhor bússola para nos orientarmos no conhecimento do fazer
poético de Eugénio, se nos detivermos, talvez, na introspeção que Eduardo
Lourenço fez sobre o mistério da poesia, em busca do «milagre» dela permitir
«aos homens comunicarem-se naquilo que os une, simbolicamente, para sempre,
subtraindo-os à solidão e à finitude que é a sua sorte comum fora desses
momentos em que literalmente ficam </span><i style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-style: normal;">fora
de si</i><span style="font-size: 12pt;">, e no centro de tudo»</span><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="font-size: 12pt; mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-size: 12pt;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O nosso
poeta também se inquietou com essa questão ontológica, assinalando em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rostos Precários</i> que «é contra a
ausência do homem no homem que a palavra do poeta se insurge, é contra essa
amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela», advertindo: «E se ousa
“cantar no suplício” é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios
olhos, e reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso no que não
creio»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Labirinto da Saudade </i>vai,
de facto, à procura do momento revelador em que a poesia singulariza e se
confunde com a vida, assinalando: «A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">palavra</i>
na sua função de designar o mundo para o converter em mundo criado por ela. É
na diversa relação que temos com as palavras, o poeta em nós e o não-poeta que
somos todos, antes do poema com que nos separamos da nossa vida quotidiana, que
reside a diferença entre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">os poetas e os
outros»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">As
palavras, dizia Eduardo Lourenço. Eugénio fez corpo com as palavras, cresceu com
elas e elas foram as pedras com que edificou o mundo dos seus versos, o mesmo
rigor, como o do avô, dizia ele, quando construía as casas em Valverde del
Fresno ou da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mão certeira com a água, </i>como
observou na camponesa de Cantão, cuja arte era igual à da camponesa de
Alpedrinha, imagem metafórica que ele foi colher para definir <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a arte dos versos</i>, título do poema. As
palavras foram a sua matéria de inquietação, o barro da vida, a maneira de
respirar o rumor do mundo e o rumor da sua poesia. Sempre as palavras no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sal da Língua.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Obedecem-me agora muito menos,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">as palavras. A propósito de nada resmungam,
não fazem<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">caso do que lhes digo,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">não respeitam a minha idade.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Provavelmente fartaram-se da rédea,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">não me perdoam<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">a mão rigorosa, a indiferença<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">pelo fogo de artifício.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu gosto delas, nunca tive outra<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">paixão, e elas durante muitos anos<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">também gostaram de mim: dançavam<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">à minha roda quando as encontrava.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Com elas fazia o lume,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">sustentava os meus dias, mas agora<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">estão ariscas, escapam-se por entre<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">as mãos, arreganham os dentes<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">se tento retê-las. Ou será que<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">já só procuro as mais encabritadas?<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Leio e
releio a biografia de versos que é a poesia de Eugénio de Andrade e penso que talvez
nada defina melhor a força das palavras como síntese de uma vida, do que a
metáfora borgeana, quando ele descobriu no paciente labirinto de linhas,
escritas ao longo do tempo, o próprio rosto. As palavras, no jogo da criação
poética, têm essa virtualidade de se tornarem espelho dos seus autores, mesmo
que a imagem devolvida às vezes surja esbatida e o espelho possa ser «um diabo
mudo», como um dia advertiu o nosso padre António Vieira. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A
palavra poética é mais autêntica, não tem disfarces: reflete os seus autores,
demiurga e fundadora que é da linguagem, extensão profunda do Homem, das suas
circunstâncias, dos sonhos e esperanças que são o lume dos seus dias. Uma a
uma, na edificação criadora de mundos, podem criar a ilusão de eternidade, ou
como um dia disse Eugénio de Andrade, citando Goethe, tornar-se naqueles
instantes mágicos que parece suspenderem o tempo. Lendo-as, às vezes em voz
murmura, como a poesia tantas vezes impõe, para espanto dos dias, ou ficar em silêncio
e de respiração sobressaltada pela invenção de humanidade de mundos outros mais
habitáveis, percebemos melhor, como o rosto do poeta é a convergência de um
chão de poemas feito caminho desafiador em busca da essencialidade do homem ou
do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">real absoluto</i>, como queria Novalis,
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando
o ser da luz for<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">o
ser da palavra,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">no
seu centro arder<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">e
subir com a chama<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">(ou
baixar à água),<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Então
estarei em casa.<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na
construção da linguagem, o seu mundo, Eugénio, que se considerava <i style="mso-bidi-font-style: normal;">o mais íntimo amigo do sol</i>, tinha o
prodígio de transformar as palavras em luz e estrelas ou em rosas de sol. Ao
lume destes pensamentos, parece-me estar a ver o rosto sereno de Eugénio de
Andrade, ou os rostos tão bem retratados por grandes pintores, seus amigos do
coração, olhando o rumor da vida, procurando a música de uma «nova humanidade a
inventar», como observou Óscar Lopes<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. </i>Se
nos fixarmos na memória desses olhares e desses rostos do poeta, encontraremos
lá, pela certa, as palavras da sua lavra, esse «ofício de paciência» que foi o
combate de toda uma vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">São
como um cristal,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">as
palavras.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Algumas,
um punhal,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">um
incêndio.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Outras,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">orvalho
apenas.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Secretas
vêm, cheias de memória.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Inseguras
navegam:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">barcos
ou beijos,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">as
águas estremecem.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Desamparadas,
inocentes,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">leves.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Tecidas
são de luz<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">e
são a noite.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">E
mesmo pálidas<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">verdes
paraísos lembram ainda<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quem
as escuta? Quem<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">as
recolhe, assim,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">cruéis,
desfeitas,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">nas
suas conchas puras?.<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Então,
falemos agora daquele Eugénio de Andrade, a quem Herberto Hélder escreveu, em
2000, a propósito da edição de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia, </i>assinalando<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>não haver «nenhum poeta português que
possa ombrear consigo neste meio século»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Tão avesso à liturgia do
elogio, as palavras de Herberto soam ainda como um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">retratíssimo</i>, em que o poeta de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ofício
Cantante</i> resumia «a narrativa de um homem», neste caso de um poeta chamado
Eugénio de Andrade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Curiosamente,
poucos poetas, como ele, tiveram consagração tão rápida e meteórica na
literatura portuguesa. Basta lembrar o fascínio e deslumbramento de Vitorino
Nemésio quando lhe chegou às mãos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As Mãos
e os Frutos</i>, acabado de sair («Tenho a impressão que um grande poeta vai
chegar à poesia portuguesa», V N)<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. </i>Estávamos
em 1948 e o autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mau Tempo no Canal</i>,
no artigo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frutos Líricos,</i> considera
que os trinta e seis poemas do livro «são de um grau excecionalmente elevado em
poesia portuguesa» acrescentando: «Poeta lírico, rilkiano, Eugénio de Andrade
trabalha num andar alto da realidade; e, sendo poeta de amor, sublima e depura
o mais que pode os motivos do seu canto»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Logo,
dois anos depois, na segunda parte do mesmo artigo, a partir de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Amantes Sem Dinheiro</i>, de 1950,
Nemésio alarga as suas certezas: «Bastaria a altura e perfeição dos seus versos
para colocar Eugénio de Andrade na primeira fila dos poetas portugueses de
hoje. Mas a originalidade dos seus ritmos e imagens, a maturação cultural e a
consciência estética que os acompanham, essas asseguram-lhe, de longe, uma
posição entre nós excecional e já francamente europeia.»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> É certo que João Gaspar
Simões considera que, com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Adolescente</i>,
em 1942, o seu primeiro livro, «Eugénio de Andrade coloca-se no vértice do
plano de irradiação do surrealismo mitigado pelo estro de Eluard» e assinala na
sua obra «uma nova era do nosso lirismo da segunda metade do século»<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Dito
isto, cabe, talvez, agora, ir em busca da certidão de nascimento da poesia de
Eugénio de Andrade, onde bebeu ele a matéria solar que alimentou os seus versos
em todo o arco temporal da sua vida. </span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A amizade com o Poeta, permitiu-me acompanhá-lo muitas
vezes, nas suas idas à Beira, e perceber os seus passos e emoções face ao
universo muito particular da sua geografia sentimental. Foi da experiência
dessas vivências que nasceu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Materna
Casa da Poesia. Sobre Eugénio de Andrade<sup>10</sup></i>, que publiquei, primeiro
em 2003, no âmbito da Rota dos Escritores da Região Centro, e depois reeditado
em 2016. Para mim, mais do que uma aventura ensaística, foi o sortilégio de ter
ouvido as longas falas do Poeta sobre as suas raízes, o seu universo criador e
o seu mundo cultural, que da poesia fazia pontes com a música, a “inalcançável
estrela”, como disse num dos seus versos.</span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">No fundo, foi uma viagem à fidelidade à terra original
e ao lugar primordial da Beira Baixa, realidades que perpassam por toda a sua
obra, em palavras e versos muito belos. Sem qualquer receio, pode dizer-se que
os territórios da infância e o tempo do "falar materno" marcariam, de
forma muito nítida, a sua produção poética. Eugénio é muito claro na
afirmação da certidão de nascimento da sua poesia: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
<i>Numa aldeia da Beira Baixa, provavelmente em Julho ou Agosto, quando a força
da canícula entra até pelas frestas mais estreitas da noite e nos impede de
dormir, uma melodia sobe no coração da lua, e inesperadamente acaricia o corpo
pequeno, intranquilo e solitário que era então o meu. Acabo de falar no
nascimento da poesia e da música<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[11]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>.</i> <br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></p>
<div align="center">
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="mso-cellspacing: 0cm; mso-padding-alt: 3.0pt 3.0pt 3.0pt 3.0pt; mso-yfti-tbllook: 1184;">
<tbody><tr style="mso-yfti-firstrow: yes; mso-yfti-irow: 0; mso-yfti-lastrow: yes;">
<td style="padding: 3pt;"></td>
</tr>
</tbody></table>
</div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Nunca o céu
de camponeses deixaria de aquecer o seu labor poético, como se estivéssemos
perante alguma coisa genesíaca, consubstanciadora de todos os lumes, seiva
identificadora de tudo aquilo que é vida e amor e terra («Gosto das palavras
que sabem a terra, a água, aos frutos do fogo do verão») Ao mesmo tempo, a sua
poesia é pródiga em oferendas corporais que simbolicamente os seus versos
respiram, às vezes metaforicamente, como nenhuns outros. Ele próprio o disse
numa das suas entrevistas: "Devo ao céu camponês da minha infância esse
princípio de paixão que me leva a procurar nas palavras o rumor do mundo"<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Entre outras coisas, em <i>A Materna Casa da Poesia</i>, fiz a cartografia
dessa relação do poeta com as terras baixas da Beira, questão sempre sua na
perplexidade dos instantes ou na solidão dos dias, em que a tutelar imagem
materna povoa o tempo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 12pt 35.4pt;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Antes que perca a memória</span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
<i>das pedras do adro,</i><br />
<i>antes do corpo ser</i><br />
<i>um só e quebrado</i><br />
<i>ramo sem água,</i><br />
<i>devolvei-me o canto</i><br />
<i>rouco</i><br />
<i>e desamparado</i><br />
<i>do harmónio na noite.</i><br />
<i><br />
Mãe!,</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">desamparado na noite<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[13]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
Talvez nenhum texto explique tão bem a sua biografia como aquele em que Eugénio
fala da sua origem e da identificação da sua poesia com as coisas simples da
terra, com a essencialidade de um mundo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ar
mais puro e habitável</i>, que transparece em toda a sua arte poética:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 12pt 35.4pt; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Sou filho de
camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que
prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água.
Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem
fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias.
São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o
vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é
capaz. As minhas raízes mergulham desde a infância no mundo mais elemental<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[14]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>
(...)<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
Percebe-se assim melhor o que disse, na citada entrevista, a que Arnaldo
Saraiva alude também no ensaio "Terra-Mãe, Matéria e Matriz Poética",
quando o jornalista o questionou sobre o que tinha trazido de Póvoa de
Atalaia. <i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">--"Quase
tudo"</span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, respondeu o poeta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">--
"Minha mãe, a terra, a água, o sol, o vento. E também o espanto. E ainda a
melancolia, que é a outra face do fervor".<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Noutro
passo, o entrevistador quis saber se tinha sido importante para o poeta ter
nascido na Beira Baixa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A resposta
não pode ser mais explícita:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Foi
importante ter nascido numa pequena povoação do sul, com grandes espaços
abertos à poeira dos rebanhos; foi importante ter sentido o ardor do vento e o
cheiro da cal fresca; foi importante ter ouvido na noite a música do harmónio,
o som do malho na bigorna no pino do Verão, o chiar dos carros carregados de
feno ao fim do dia; foi importante colher as maçãs das árvores e mordê-las e
deitá-las fora, ou mergulhar os pés na água até ficarem de vidro<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[15]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Os versos de Eugénio, também eles, como a poesia de
que os deuses devem<i> </i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">gostar
(lembramo-nos sempre de <i>To a Green God)</i>,<i> s</i></span>ão capazes de
nos enlear como sintomático ritual onde só encontramos luz. Os versos abrem-se
"à mais pura madrugada" nessa viagem interminável a um mundo em que o
homem é a medida de todas as coisas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 12pt 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br />
<i>Nada podeis contra o amor<br />
contra a cor da folhagem,<br />
contra a carícia da espuma,<br />
contra a luz, nada podeis.<br />
<br />
Podeis dar-nos a morte,<br />
a mais vil, isso podeis<br />
-- e é tão pouco<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[16]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O seu canto
é sempre de índole superior, densamente humano ("Não canto porque sonho.
Canto porque és real"), triunfador sobre o silêncio e a dor, mesmo quando
esta, incicatrizável, impele a "ir com as aves" ou deixá-la adormecer
sob «o peso da sombra». Poeta do amor, como ato de plenitude, livre e
libertador, a poesia do autor de <i>Os Amantes Sem Dinheiro</i> liberta
no próprio instante da sua apropriação pela leitura e, nesse ato de libertação,
gera mil cumplicidades numa poética em que o esplendor do corpo é o impetuoso
rio da vida, "corpo habitado" na plenitude do ser, como diria Ramos
Rosa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">"</span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Na porosa fronteira do silêncio", os versos de
Eugénio de Andrade são uma magnífica âncora de esperança e alegria. Contra a
banalidade do mal, é uma poesia onde ainda podemos encontrar um intacto refúgio
de futuro, a primordial esperança que ajuda a olhar em frente. Por isso,
celebrar a obra e a poesia de Eugénio de Andrade é um puro regresso ao dia
claro, um aceno á alegria dos instantes, a reafirmação de um tempo em que a
humanidade triunfa sobre os desígnios do mal. Tudo «como uma espécie de
música».<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Voltamos ao
princípio: uma vida de palavras. Uma vida definida por Eugénio em dois versos
magníficos:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">No prato da balança um verso basta<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">para pôr no outro a minha vida<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[17]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Uma
vez, ouvi Eduardo Lourenço dizer que a melhor forma de falar de poesia, é
dizê-la. Digamos, então, mais um poema de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ofício
de Paciência:<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">A
palavra nasceu<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">nos
lábios cintila.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Carícia
ou aroma,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">mal
pousa nos dedos.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">De
ramo em ramo voa,<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">na
luz se derrama.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">A
morte não existe:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">tudo
é canto ou chama.<sup>18<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></sup></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">A poesia de Eugénio é canto e chama que
vive no tempo. Steiner, falando longamente de Bekett que, como o nosso poeta,
também gostava de «procurar a voz do silêncio», escreveu: «Louvados sejam os
santos pelos pontos finais.»<sup>19 <o:p></o:p></sup></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">Também eu os louvo pondo ponto final na
minha fala para sossego dos meus pacientes ouvintes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><sup><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 16pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></sup></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><sup><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 16pt; line-height: 150%;">Lisboa,
12 de Outubro de 2023, Biblioteca Nacional, Congresso Ínternacional sobre Eugénio
de Andrade, organizado pela FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)<o:p></o:p></span></sup></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Lourenço, Eduardo. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Obras Completas ,Vol.
III (Tempo e Poesia)</i>, pag.221, Fundação Calouste Gulbenkian, 2016.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia e Prosa, Rosto
Precário, </i>pag.276,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Edições O
Jornal, Lisboa, 1990, <o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Lourenço, Eduardo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Op Cit.</i>, pag. 222.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Sal da Língua, </i>in <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia pag.,527, </i>Fundação Eugénio de
Andrade, 2000.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Contra a Obscuridade, </i>in <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia,</i>pag.389.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Coração do Dia, </i>in<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> Poesia, pag. 88.<o:p></o:p></i></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Neves,
Fernando Paulouro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Materna Casa da
Poesia</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Carta de Herberto Hélder</i>,
pag. 114. Lugar da Poesia, Fundão.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Nemésio,
Vitorino, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Obras Completas</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ensai</i>o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Frutos Líricos</i>, pag541,Imprensa Nacional/Companhia das Ilhas,
Lisboa, 2019.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Nemésio,
Vitorino, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Op. Cit.</i>pag.549<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Simões,
João Gaspar, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Itinerário Histórico da Poesia
Portuguesa</i>, Arcádia, Lisboa, 1964, pag.384.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="tab-stops: right 425.2pt;"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Eugénio de Andrade<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, Poesia, Terra de
Minha Mãe</i>, pag. 51, Ed. Asa, Porto,1992<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia Prosa</i>, pag. 348<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Coração do Dia</i>, in <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia</i>, pag. 96.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText"><o:p> </o:p></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia e Prosa</i>, pag.288.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Saraiva, Arnaldo, prefácio a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia,
Terra de Minha Mãe</i>, pag.5, Ed. Asa.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Até Amanhã</i><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/Eug%C3%A9nio.docx#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Eugénio
de Andrade, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ofício de Paciência</i>, in <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poesia</i>, pag.487.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText">18 Eugénio de Andrade,, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Até Amanhã</i>, Poesia, pag. 76<o:p></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText">19 Steiner, George, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">George Steiner em The New Yorker</i>, pag. 186, Relógio D’Água, Lisboa,
2017-<o:p></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText"><sup><span style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></sup></p>
</div>
</div><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-73012812978443911602023-10-24T15:07:00.002+01:002023-10-24T15:27:57.215+01:00NAVEGANDO COM A LUZ NA OBRA DE EDUARDO LOURENÇO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZW30YKKSOmkLEsEPanIC_xGbydU6SQzTZxr8JNSYhRJ_wAmVQ2GbIHD-8z-EKUykkGqlqZRtcCV5v7rzyuTME_xJF_Hx3Atf74OrtjUcvExnYpwbr9D5F0HdTgvqGTkvD7qcyTvOFDIWNtgO3Dnqfum4MdiW6XN1HN8znCLdzy7uRGczQL5xKDZ9mMek/s1600/ML0240_eduardoLourenco_1600.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1600" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZW30YKKSOmkLEsEPanIC_xGbydU6SQzTZxr8JNSYhRJ_wAmVQ2GbIHD-8z-EKUykkGqlqZRtcCV5v7rzyuTME_xJF_Hx3Atf74OrtjUcvExnYpwbr9D5F0HdTgvqGTkvD7qcyTvOFDIWNtgO3Dnqfum4MdiW6XN1HN8znCLdzy7uRGczQL5xKDZ9mMek/w400-h250/ML0240_eduardoLourenco_1600.jpg" width="400" /></a></div><br /> <span style="background-color: white; color: #333333; font-size: 14pt; text-align: justify;">Eduardo Lourenço foi uma espécie de sol que irradiou luz, uma luz fecunda,
iluminadora do nosso pensamento e da nossa vida coletiva. A sua Obra é essa luz
solar que se abre em cada página, convocando-nos sempre à leitura do prazer da
descoberta, à inovadora análise da realidade, ao labirinto das ideias que fazem
o caminho da nossa relação com o mundo. Voltar à densidade das suas páginas é,
de facto, um regresso sem fim. Sábio que era, sem nunca se mostrar como tal,
menos oráculo e mais homem comum, ele decifrava pacientemente, à conversa ou à
escrita, o labiríntico universo da cultura, mostrando que o chão nosso do mundo
é um processo de persistente aprendizagem, que todos os dias recomeça nos
desafios que a sociedade coloca no meio do caminho, como a pedra do poema de
Drummond.</span><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Das melhores coisas que me aconteceram na vida, foi conhecer Eduardo
Lourenço e poder partilhar a sua amizade. Pude viver momentos singulares à
volta do Mestre. Às vezes, era o nó de terra originário, S. Pedro de Rio Seco
(o seu “Paris-Texas”, como escreveu um dia), outras a memória da Guarda
“sideral” e “crepuscular” na metáfora de um “navio de pedra ao alto de uma
montanha”, ou a Beira do altar e do arado, “terras de funda memória”<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> no seu sono arcaico e
profundo. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A mesa era sempre boa para os pensamentos e o Eduardo, de facto,
ensinou-nos a perceber o sentimento de pertença como se toda a Terra fosse
Pátria, como alguém disse de Roland Barthes. “Quem vê o seu povo, vê o mundo
todo”,<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> escreveu ele um dia, como
síntese do seu olhar universal. Porque a sua prática era sempre de comum
humanidade. Não gostava de torres de marfim, tão ao gosto de algumas academias,
e, quando as havia, descia delas para uma democrática cidadania do saber sobre
a emergência do quotidiano. Falava de tudo, nada do que era humano lhe era
estranho: dos fenómenos sociais, da sociedade do espetáculo, do futebol e da
política à escala nacional ou planetária. Encarou sempre a cultura como questão
primordial e não poucas vezes, como um dia confessou, falando do mundo dos
grandes autores, estava a falar de si, mas fazia-o como se o memorialismo
pessoal e imediato lhe estivesse vedado. Ensinou-nos, com críticas literárias
ou ensaios, que é como leitores que nós somos literatura.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Uma das ressonâncias mais fortes da Obra de Eduardo Lourenço radica na
forma como, à sombra tutelar de Oliveira Martins e de Antero – sobre quem
escreveu o livro essencial: <i>Antero
Portugal como Tragédia<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[3]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>
--, ele pensou e repensou a problemática da civilização ibérica e do iberismo,
articulando-as com o voo mais amplo da Europa, isto é, projetando “a península
como problema europeu”. Questão que ele teve sempre consigo mesmo, ou não
tivesse nascido em S. Pedro de Rio Seco, e, desde cedo, conhecido os horizontes
da Raia olhando as planuras de Castela. Talvez a circunstância do <i>locus nascendi</i> tenha cravado no coração
do seu pensamento a Ibéria, ao mesmo tempo como inquietação cultural fecunda e
como espaço mítico do destino português.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O fascínio por Espanha de Eduardo Lourenço edificou-se muito à volta do
esplendor cultural, que se tornaria um nó afetivo especial e um tema muito
presente no ensaísmo lourenciano. Ele explicou, logo em <i>Heterodoxia I</i>, por que “o mundo da cultura portuguesa arrasta há
quatro séculos uma existência crepuscular<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>”, enquanto escrevia que
”consciente duma hispanidade irredutível mas valiosa, Unamuno recusou-se à
tentativa de Ortega y Gasset de aproximar a Espanha da Europa”. “É
compreensível a recusa de Unamuno – dizia com alguma ironia – em trocar
Cervantes por Rabelais (…) como é defensável colocar lado a lado, Grecco e
Rembrandt”. E logo interrogava: “Sem equívoco possível e com dura tristeza,
perguntamos àqueles de nós que têm a lucidez amarga de se conhecer: é este o
caso português?”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A contingência portuguesa era de índole diferente: “o inconsciente coletivo
de Portugal só tem existência autêntica até Álcácer Quibir, depois Portugal é a
“não-história, até bater à porta de uma Europa desencantada”<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a>. Em 1949, este pessimismo
tinha raízes fundas em Antero de Quental, esse que se suicidou de quem “Miguel
de Unamuno, no mais célebre dos seus livros, incluiu entre os catorze grandes
nomes que no passado século teriam <a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a>encarnado o “sentimento
trágico da vida”. E também Oliveira Martins que escreveu a <i>História da Civilização Ibérica</i> e a sonhou como utopia. Para
Lourenço, Oliveira Martins foi sempre Mestre sobre a Ibéria.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Mas era, já, a distância da Europa, o deserto da solidão, que inquietara a
Geração de 70 e a desalentara com as sombras das fatalidades históricas, a
tornar-se sintomática causa do atraso português. A síntese dessa anquilose
social, cultural e cívica fê-la Antero em 1871, na célebre Conferência do
Casino, em que analisou <i>As Causas da
Decadência dos Povos Peninsulares<sup>7</sup></i>. Disse ele: “</span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Que é, pois,
necessário para readquirirmos o nosso lugar na civilização? Para entramos outra
vez na comunhão da Europa culta? É necessário um esforço viril, um esforço
supremo: quebrar resolutamente com o passado. Respeitemos a memória dos nossos
avós: memoremos piedosamente os atos deles: mas não os imitemos. Não sejamos, à
luz do século XIX, espectros a que dá uma vida emprestada o espírito do século
XVI”. Eduardo Lourenço, como se estivesse no Gabinete de Crise ou no divã da
psicanálise mítica a fazer o ponto de
situação, comenta:<span style="color: #333333;"> “</span>A fim de escapar à
imagem “reles” de existência diminuída, “arremedo grosseiro da existência civilizada,
Portugal “descobre” a África, no esforço de reinventar uma alma “à século XVI”,
para perder, ingloriamente, o Brasil.”<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 14pt; line-height: 106%;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">No nó de
terra, debruado de mar, que é Portugal, a relação com Espanha nunca foi fácil e
a célebre “mirada de espaldas” ficou como caricatura grosseira no desenho
peninsular. No século XVI, um grande poeta português, Sá de Miranda,
lamentava-se: <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> Não me temo de
Castela<o:p></o:p></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
D’onde guerra inda não soa<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> Mas temo-me
de Lisboa<o:p></o:p></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
Que ao cheiro desta canela<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> O reino me
despovoa<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: 14pt; line-height: 106%;">[8]</span></b></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Ao longo do
tempo, como acontece sempre quando ao poder interessa sobrepesar a ameaça de
inimigos próximos ou remotos, mesmo que a História os configure, depois de
reais, a imaginários, a Ibéria tornou-se uma realidade física e ideológica mal-amada,
às vezes perigosa, que durante as ditaduras, dum lado e do outro da fronteira,
podia ser matéria de delito comum. Todavia, a Ibéria sobreviveu no pensamento e
no imaginário, pela respiração cultural dos dois países, sobretudo no século
XIX.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Ao arrepio
da desconfiança e rejeição populares, onde a acefalia de um nacionalismo
arcaico envenenava as ideias, não faltavam intelectuais que ousavam pensar em
voz alta sobre a questão-tabu.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Lembramo-nos,
do lado português de Pessoa a imaginar a Ibéria como “convergência
civilizacional”, ou de Teixeira de Pascoaes a sonhar uma “civilização ibérica”,
que o poeta não veria materializar-se e certamente podemos incluir o desalento
nas belas palavras de uma finitude triste: “quando tudo acaba, resta a
saudade”. Podia igualmente falar-se de Almada Negreiros, que também punha o
acento tónico numa “civilização ibérica”. Do lado espanhol também não faltaram
notabilidades a convergir numa ideia de Iberismo, que, penso, era visceralmente
republicana. Unamuno, Valle-Inclan, Marin.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Passarão
anos até Miguel Torga, o autor de <i>Poemas
Ibéricos, </i>escrever um poema identificador da sua pessoalíssima Ibéria:<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">De um lado tierra, doutro lado
tierra<o:p></o:p></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> De um lado gente, doutro lado gente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> Lados y hijos de uma misma tierra<o:p></o:p></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
El mismo cielo los mira y los consiente<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: 14pt; line-height: 106%;">[9]</span></b></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">É verdade que a cultura soprada de Espanha nunca deixou de marcar os
escritores portugueses, tributários do Siglo de Oro ou da Geração de 1923, onde
Lorca foi epicentro. Contrabandeavam-se coisas e ideias, as palavras voavam por
cima das fronteiras para escaparem à mordaça.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O 25 de Abril de 1974 tudo mudou, primeiro em Portugal, e, logo depois, em
Espanha, abrindo outras “avenidas de diálogo, nos caminhos da democracia e da
liberdade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">No entanto, a mutação das mentalidades é um processo de longa duração.
Neste meio século de liberdade, muito se transformou na articulação das
relações de cooperação entre os dois povos. Conhecemo-nos melhor. Estamos mais
presentes em realidade comuns.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Arrostamos há séculos com um aforismo que diz cinicamente, com desencanto,
que “De España, ni buen viento, ni buen casamento”, e, no entanto, o provérbio
não é originariamente nosso, mas vosso. Há uns anos, fui a Mérida participar na
Ágora, que foi um notável acontecimento cultural transfronteiriço, e expliquei
lá que a fórmula cética original era “De Jerez/ni buen viento, ni buen
casamento, ni mujer que tenga assiento”, já registado por Hermán Nuñez em 1555,
esclareceu o Prof. Arnaldo Saraiva, que elencou as muitas variantes, como uma
de Galiza, bem mais simpática: “De España ni buen viento, ni mal casamento”<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn10" name="_ftnref10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></a>. A Saramago podia bem
sobrepor-se este refrão.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Há um artigo notável do Prof. A. Saéz Delgado que escalpeliza o carácter
transiberista de José Saramago, a partir de <i>A
Jangada de Pedra</i> (<i>La Balsa de Piedra</i>),
considerando o seu pensamento iberista sobretudo de índole cultural. Numa
perspetiva “transatlântica da nossa posição no mundo”, privilegiando “os países
de tradição ibérica na América e na África.”<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">As águas dessas navegações em terra, bem o sabemos, radicam muito no barro
da língua. Curiosamente, há um texto verdadeiramente singular, datado de 1975,
do grande poeta Herberto Helder, que faz sentido trazer aqui: Diz ele:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Se tomando posse da declaração de
nacionalidade pessoana, admitirmos que a nossa “pátria é a língua portuguesa”,
e se admitirmos também que existe uma realidade idiomática (com a implicação
generalizada de padrões culturais afins, se bem que diferenciados)
luso-castelhana, acabaremos por dizer que a nossa pátria é a fala
castelhano-portuguesa. Nessa fala arterial vive o que pode ligar e entender-se,
esses consentimentos mútuos às solicitações de algo como um inconsciente
idiomático colectivo, cujas formulações seriam parentes, plurilateralmente
comerciáveis, organizando-se numa unidade familiar. As línguas portuguesa e
castelhana, reconhecendo-se os divórcios e ignorâncias em que estão, podem
afirmar-se como um nó cultural de onde partiu um impulso criador que tem
exemplo frontal na chamada América Latina e se instituiu mais recentemente em
África.<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn12" name="_ftnref12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[12]</span></b></span><!--[endif]--></span></a>
<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A ideia luminosa de Eduardo Lourenço, ao sugerir a criação do Centro de
Estudos Ibéricos (CEI) vem, de certo modo, ao encontro do projeto de Herberto
Helder.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Se olharmos para trás não vislumbramos ninguém que tanta luz tenha
irradiado sobre a exigência de um novo tempo peninsular, na sua articulação com
a Europa, do que Eduardo Lourenço, que foi capaz de lhe acrescentar uma
realidade outra de dimensão planetária, como tão bem explicou em <i>Nós Outros e a Europa</i> ou em <i>O Outro Lado da Lua</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Quando perguntamos -- e agora?, devemos deter-nos no acervo fabuloso da
suas <i>Obras Completas</i> e, através
delas, interrogarmos as suas palavras, ouvindo a música do pensamento que se
eleva das páginas. Oiçamos:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A famosa problematização do nosso
destino que nos causava tantos problemas enquanto peninsulares que se viam com
atores políticos de segunda grandeza, de segunda instância. Se nós pensamos
que, particularmente a América Latina, é filha direta da Península nós não
podemos ser problematizados a esse título. A esse título, já sem o sabermos,
essa existência transatlântica fazia que não sentíssemos tanto as humilhações
que tínhamos em relação à “outra” Europa. Estávamos construindo algo que nós
nem sabíamos o que era, maior do que nós e isso não é o nosso passado, isso é o
nosso presente e penso que será realmente o nosso futuro. O nosso futuro está
naquilo que realmente inventámos, trazendo à Europa uma Europa que ela não
conhecia.<a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftn13" name="_ftnref13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 106%;">[13]</span></b></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O sol volta sempre mais brilhante quando regressamos às ressonâncias da
Obra de Eduardo Lourenço, o que hoje estamos fazendo em Salamanca, cidade que
ele amava. Estamos à mesa das suas palavras e dos seus pensamentos, como se ele
falasse connosco. Quer dizer, estamos no meio da luz.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Centenário de Eduardo
Lourenço na Universidade de Salamanca, <i>Ressonâncias
na Obra de Eduardo Lourenço. Regresso sem Fim.<o:p></o:p></i></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">18,10.23<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</p><div><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<p class="MsoFooter"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Lourenço, Eduardo. <i>Vida Partilhada. O CEI
e a Cooperação Cultural</i>. A Ibéria e a Europa, pag 61 e ss, Âncora Editora,
2013.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2">
<p class="MsoFooter"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Lourenço, Eduardo. Op. Cit. Lembrança espectral da Guarda, pag. 13 e ss.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3">
<p class="MsoFooter"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>
3.Lourenço, Eduardo. Obra Completa, Vol. VII, Antero Portugal como Tragédia,
Vol. VII, FCG, 2021.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn4">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Lourenço, Eduardo. <i>Obra Completa</i>,
Vol. I<i>, Heterodoxia I</i>, pag 41,
FCG,<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn5">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a> Lourenço,
Eduardo. O Labirinto da Saudade Psicanálise Mítica do Destino Português, pag
62, Ed. Dom Quixote, Lisboa<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn6">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Lourenço, Eduardo<i>. O Labirinto da Saudade</i>,
pag 62. <o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn7">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a> .Antero
de Quental<i>. Causas da Decadência dos
Povos Peninsulares</i>, pag. 67, Ulmeiro, Lisboa, 1987.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn8">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a> Sá de
Miranda, <i>Carta a António Pereira, Senhor
de Bastos</i>.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn9">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a> Torga,
Miguel. <i>Poesia Completa</i>, pag. 204.
Publicações Dom Quixote, 2000<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn10">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref10" name="_ftn10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></a> Saraiva,
Arnaldo. Jornal do Fundão – JF Cultura, Maio de 2000<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn11">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref11" name="_ftn11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Delgado, Alberto Saéz<i>. José Saramago
Traniberista</i>, Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Évora, pag
50.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn12">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref12" name="_ftn12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></a> Helder,
Herberto. Nova I, Inverno 75/76, Magazine de Poesia e Desenho Lisboa e Jornal
do Fundão. Editor Herberto Helder<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn13">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Documentos/a%20luz%20de%20Eduardo%20Louren%C3%A7o.docx#_ftnref13" name="_ftn13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 106%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></a>Lourenço,
Eduardo. <i>Vida Partilhada, A Península
como Problema Europeu</i>, pag. 67, Ed. Âncora e CEI, 2013<o:p></o:p></p>
</div>
</div><div style="mso-element: footnote-list;"><div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
</div>
</div>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-75617734811913878242023-10-06T18:16:00.000+01:002023-10-06T18:16:03.225+01:00ROUBARAM-NOS O CAFÉ MATINAL EM FORMA DE CRÓNICA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcMdw-GUjBCVIQhn7Jc5wCcfM7K6sM5A5Vp_DbAe_NAHTB06tNk87kUksE1ohtaP6iuiyPiGMff3tqisjZ1weoCTW15A_RM0g9OFq5hdJCdMBm-Y2ckszYsRSZNyBVl5E3BIWclSITONjUmwf6Ycx5kOb2NzDfOjIkes1GRTvJ98tE1MZ1MAAne9EJEUo/s800/fernando%20alves.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcMdw-GUjBCVIQhn7Jc5wCcfM7K6sM5A5Vp_DbAe_NAHTB06tNk87kUksE1ohtaP6iuiyPiGMff3tqisjZ1weoCTW15A_RM0g9OFq5hdJCdMBm-Y2ckszYsRSZNyBVl5E3BIWclSITONjUmwf6Ycx5kOb2NzDfOjIkes1GRTvJ98tE1MZ1MAAne9EJEUo/w400-h400/fernando%20alves.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;">Procuro agora a voz do
silêncio para mitigar a ausência de </span><i style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;">Sinais
</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;">do Fernando Alves, na TSF. Surpreendentemente, ou nem tanto, o seu
microfone calou-se e o deserto à nossa volta avançou um pouco mais. A mim e a
milhares de outros, roubaram-nos um pequeno prazer, feito daqueles instantes
que alimentam o rumor do mundo dos homens e das coisas. Escrevi há uns bons
anos que a crónica do Fernando Alves, era como o primeiro café da manhã,
abrindo-nos um sorriso matinal à navegação do dia que aí vinha. Vou ao encontro
da memória e de palavras da minha narrativa imediata, e lá está: “O que me
fascina nos </span><i style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;">Sinais</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif;"> do Fernando Alves
é a emoção do seu falar, as palavras perto do coração, a rara capacidade para
selecionar a realidade, que é o saber maior do jornalismo. Ele fala do mundo,
vai longe ou perto buscar temas para o seu livro de todos os dias, é capaz de
mergulhar nas raízes locais, às vezes microcosmos de realidades universais, e
pegar neles para nos dizer que esses detalhes humanos, farrapos de vida, são
parte inteira da nossa comum humanidade. O Fernando Alves faz assim, com
apurada sensibilidade cultural, às vezes deixando-nos o sabor amargo da
perplexidade de sabermos que estamos face a qualquer coisa que nos escapa, a
nós, cidadãos cada vez mais desarmados face à vida armadilhada de que somos reféns.
Outras é o seu olhar andarilho a captar grandes-planos -- aqui uma história, ali
um rosto ou uma vida, imagens efémeras deste nó de terra chamado Portugal.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">
<span style="background: white;">Os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sinais</i>
são uma espécie de voz primordial, matinalmente pura, a descrição de um tempo
cheio de singularidades, a narrativa da esperança em forma de crónica sonora.
Por que não há coisas destas nos jornais, onde a crónica (na tradição literária
do jornalismo português) é hoje um género mal tolerado, provavelmente pelo
alegre analfabetismo reinante. Oiçam o Fernando Alves, caramba! E percebam como
a matéria da vida ainda é o alimento essencial de quem escreve.”<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">Ecoam na memória os sons
das suas errâncias à procura de identificar o país, cuja identificação fazia
somando rostos, vozes anoitecidas, paisagens, acontecimentos. Perdemos muita
coisa com a ausência de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sinais, </i>ficamos
sobretudo mais pobres em matéria de sonhos. O Manuel António Pina, se cá
estivesse, diria: “Tenham calma! Não é o fim do mundo, é apenas um pouco tarde”.
O Fernando Alves tem aquela sabedoria de Pascal para os momentos sombrios, e, à
sua maneira, também não sabe estar quieto dentro de quatro paredes. Vai
continuar a fazer coisas fantásticas, se calhar a dar corpo à sua escrita
fantástica, inventando outros <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sinais. </i>Fico
à espera. Venham de lá outras cumplicidades. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">Hoje, apenas lhe quer
aquele abraço fraterno de pura gratidão. Até amanhã!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">6.10.23<span style="font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-23552626871346892092023-09-11T18:58:00.001+01:002023-09-12T09:17:28.893+01:00O CRIME DESTE DIA, HÁ 50 ANOS!<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT4qu0Zuegma8RaaYEQ_oZFH6LxDX9Xe9wGOhHXOfzPEwEKgW0JX1WP0P0eHXfgoviefBjZ2k2_FgFlcLjAcP5OThf2OFvAr1Z9mka40pzwTjy8RuCLSvO4GS3gWUXDk37XY3RvbKtlQzGnuEiwhunJV0GW94C6-td27gP6hOzVz_8fhQY9HB4WkHozHU/s470/chile%20pinochet.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="263" data-original-width="470" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT4qu0Zuegma8RaaYEQ_oZFH6LxDX9Xe9wGOhHXOfzPEwEKgW0JX1WP0P0eHXfgoviefBjZ2k2_FgFlcLjAcP5OThf2OFvAr1Z9mka40pzwTjy8RuCLSvO4GS3gWUXDk37XY3RvbKtlQzGnuEiwhunJV0GW94C6-td27gP6hOzVz_8fhQY9HB4WkHozHU/w640-h358/chile%20pinochet.jpg" width="640" /></a></div><br /> <span face="Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #333333; font-size: 10.5pt; text-align: justify;">Amanheceu um dia triste, hoje, sem luz
nem uma nesga de céu azul, só novelos de nuvens a diluírem a paisagem, ao
longe, e uma chuva miudinha e intermitente, soprada pelo vento da serra, talvez
um daqueles dias cinzentos que, dizia o Zé Gomes Ferreira, fecham um mundo numa
prisão. Um dia assim, pesado de chumbo, continuei a pensar, é o propício para
evocar tragédias. Há cinquenta anos, neste mesmo dia, aconteceu uma, que
carrega tantos crimes contra a humanidade, que ainda os cadáveres dos assassinados
não repousam na eternidade merecida e os rostos dos desaparecidos continuam a
ensombrar os dias. Há cinquenta anos, foi o golpe de Pinochet, a more de
Allende, com o conluio, sabe-se bem, de Nixon, urdido pacientemente por
Kissinger. Balbuciar o nome de Pinochet e seus cúmplices ainda arrepia. 11 de
Setembro de 1973. O dia povoado de “cloacas assassinas e mal cheirosas”, como
lhe chamou Neruda no último poema que escreveu.</span><p></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Neste dia triste, quis voltar, também, à
memória de Luís Sepúlveda, o grande escritor chileno (que saudades, camarada!)
que eu tive a honra de propor ao Prémio Eduardo Lourenço. Eu fixei um momento
do acontecimento, quando veio à Guarda receber a distinção. Foi em 2016.
Transcrevo porque a história se cruza entre o Chile e o 25 de Abril, de que estamos
a comemorar o cinquentenário <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span><span face="Helvetica, sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt;">“Na memorável sessão da entrega do
Prémio Eduardo Lourenço a Luís Sepúlveda (ver Notícias do Bloqueio) e da
conversa de duas horas que, à noite, na Biblioteca Eduardo Lourenço, perante um
público a um tempo entusiasmado e surpreso, mantive com o escritor, duas
histórias registei para o arquivo da memória. Hoje, quero oferecer a primeira
aos meus Leitores. Depois contarei a outra, que é sobre os mistérios da
Literatura.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Na primeira, o diálogo girava à volta
daquele triste mês de Setembro de 1973, no Chile, que se tornaria tempo de
todos os terrores. O autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Velho Que
Lia Romances de Amor</i> contou então que, depois do golpe de Pinochet, esteve
longos meses preso, com mais de mil companheiros num daqueles campos de
concentração do ditador, afastado q.b. da cidade de Santiago, onde continuava a
“chover” violência, tortura e morte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O calendário continuava a rodar, o tempo
parecia suspenso para quem sofria o martírio das grades, os dias indicavam
Abril e promessas de Primavera, lá fora. Contou, então, Luís Sepúlveda: “Um
dia, ao contrário do que era regra, os oficiais e soldados que vigiavam o campo
não tinham vindo infernizar a vida dos prisioneiros, não havia “trabalhos
especiais”, ameaças e gritos de comando, aquilo que nesses lugares não são
outra coisa senão redutos de ignomínia, contra a dignidade humana. As horas
passavam e persistia uma estranha serenidade, quase um silêncio, uma calma que
causava em nós uma grande curiosidade”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Isto lembrou o escritor, que depois
acrescentou o capítulo final à sua história. ”Quando falei com um graduado mais
razoável, perguntei-lhe:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">-- Qué pasa<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Muito seco, respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">-- Vos otros hábeis ganado. Hay una
revolución en Portugal!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span><span face="Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #333333; font-size: 10.5pt; text-align: justify;">Era o 25 de Abril. E Luís Sepúlveda:
“Noutro continente, lá longe, a muitas milhas de distância, uma ténue luz de
esperança se abria para a nossa condição de prisioneiros”. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span><span face="Helvetica, sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt;">Abril e o Chile de Allende cruzam-se numa
palavra: Liberdade!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Helvetica",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-13478707672354443792023-09-09T18:42:00.003+01:002023-09-09T18:42:36.979+01:00QUEM TEM MEDO DA MERITOCRACIA?<p>O escritor Javier Cercas, celebrado autor de <i>Anatomia de um Instante</i> e de <i>O Castelo do Barba-Azu</i>l, e cronista do “El Pais”, refletiu um
dia destes sobre as doenças da democracia. A dado passo do seu texto, quase em
jeito de conclusão, advertiu: “Não vejo como pode construir-se uma democracia
de verdade que não seja de verdade uma meritocracia. Quem teme a meritocracia?
Só os privilegiados ciosos dos seus privilégios”.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ora, aqui está um tema que deveria dar que pensar na
sociedade portuguesa. Todos os dias conhecemos casos de atropelo ao mérito para
favorecimento de idiotas e imbecis, envoltos em altos títulos, alcandorados a
uma efémera glória, por via da ausência de coluna vertebral e de fidelidades
caninas aos superiores, os amos dos tempos modernos. Estão por todo o lado
esses carreiristas que vendem a alma ao diabo para subirem ao topo da carreira:
encontramo-los na política, na administração pública, no mundo empresarial e
até nos auto-proclamados templos da ciência e do conhecimento. Às vezes, até é
perigoso ter biografia de sucesso ou obra feita! E pensar em voz alta, em
assembleias perseguidas pelo medo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Lá vão eles, na procissão da subserviência, sempre atentos,
veneradores e obrigados. Falar do mérito pode soar a heresia. Pergunto, com a
mesma perplexidade de Javier Cercas: quem tem medo da meritocracia?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">6.09.23<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-21732776959059065732023-09-07T13:02:00.001+01:002023-09-07T13:05:11.579+01:00O CANTO DAS AVES, O ORFEÃO ESQUECIDO<p> <span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">Vem da terra da alegria da infância, dos dias gloriosos da
Quinta, quando os passos andados são a lenta aprendizagem da nossa relação com
a Natureza, o conhecimento do canto dos pássaros e da liberdade do voo das
aves, riscando desafiadoramente os céus. Esse mundo de árvores e pássaros, hoje
metáfora de uma realidade planetária mais habitável, acompanha-nos na aventura
cósmica existencial, embora o tempo não pareça correr de feição para o elogio
ou a vivência das coisas simples e elementais que dão dimensão humana à própria
vida.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Lembrei-me de todas essas contingências porque me caiu
sobre os olhos uma entrevista com o ornitólogo Dave Langlois (“El Pais”), autor
do livro recentemente publicado pela Editorial Tundra, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Canto das Aves. O Orfeão Esquecido.</i> O ornitólogo vive hoje, entre
as Astúrias e a Extremadura, diz ele, “para estar mais perto destes virtuosos
da música da natureza”, que começaram a cantar há 60 milhões de anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Pergunta-lhe o jornalista Clemente Álvarez:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">-- No seu livro inclui uma classificação das 20 melhores
aves cantoras de Espanha, colocando nas duas primeiras posições o melro e o
rouxinol. Por quê?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">E ele:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">-- Para mim, o melro é como Bach e o rouxinol como
Beethoven. O melro são as melodias sinuosas de oboé de uma cantata de Bach, uma
execução perfeita. E logo está a fúria do rouxinol, que é como um dos últimos
quartetos de Beethoven.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O jornalista volta à carga:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">-- No caso do rouxinol assegura que tem 150 a 230 tipos de
canto diferentes. Não é assim?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">-- O rouxinol tem mais de mil notas, mais de mil sílabas no
seu canto. E não se repete, o seu canto é sempre um pouco diferente. O rouxinol
é uma ave com infinidade de frases e o melro é um pássaro com uma frase que
varia sem limite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #191919; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Uma resposta surpreendente é quando fala do que
devemos a esses cantos milenares:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #191919; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">-- Há um exemplo de que gosto muito. Ta ta ta
taaaa. Três notas curtas que caem num terceira maior. Este famoso tema da
quinta sinfonia de Beethoven parece-se muito ao canto do chapin comum. Cópia?
Casualidade? Não sei. Mas parece-me impossível que pessoas com uma agudeza
auditiva como ade Beethoven, Bach, Mahler, que viveram rodeados destes outros
maestros do canto, não se inspirassem neles para as suas obras. Beethoven
escreveu: “Quando vou caminhando pelo campo, as escrevedeiras amarelas, os rouxinóis,
as codornizes e os cucos vão compondo comigo”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #191919; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">As aves conhecem o tempo, ganharam a sabedoria de
passar por cima das fronteiras em busca de amenidades climáticas, agora a
sofrerem mutações letais. Há muito perceberam que o planeta está a respirar
pior, pondo em causa a vida. Mas continuam a cantar, sempre à espera da
primavera para sua explosão sinfónica, que prolonga pelo verão. No outono, que
nos está a bater à porta, ainda se ouvem, a espaços, cotovias e pintarroxos,
preparando-nos para o silêncio do inverno, quando a luz é mais escassa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #191919; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Ouvir o amanhecer do canto dos pássaros, num
bosque, ou à beira de uma árvore, é não pequeno milagre. Motivado pelos
ensinamentos do ornitólogo, fui reler Mestre Aquilino, no admirável <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Homem da Nave</i>. Ele, de facto, nunca
esqueceu o orfeão da música das aves e ouvir esses cantos da natureza era dos
seus prazeres, nas temporadas que passava na sua quinta de Soutosa. De certo modo,
no capítulo em que descreve o seu Kruger, está lá esse mundo que Dave Langlois narra em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Canto das Aves. O Orfeão Esquecido</i>. Um mundo maravilhoso, que o autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Malhadinhas</i> recria com o seu génio. Não se esqueceu até das
andorinhas. “… Só as andorinhas não levantaram o interdito e não me consolo.
Como escrever no céu, onde riscam suas mensagens misteriosas, a palavra mágica
de resgate, de congraçamento e de inteligência de espécie para espécie: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Liberdade?”</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #191919; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">7.9.23<o:p></o:p></span></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-47826913235399718462023-08-14T19:23:00.001+01:002023-08-17T10:11:35.072+01:00OS LIVREIROS E OS MUNDOS QUE NÓS PERDEMOS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR-WOLc2KYmsLOhNmbsr8hfalNaxDnfPnLeOI-paqev-UoBGArNXj2ODnXkbNWo6g7nXh-J_w9DEBHszJa0VxPG0o7FdzPGSJ9N8sBqcEv-_qms7Zv3lOsIe1HHtepn-jfgjcqcFDlPsjJYYt4l9UpK7zCxgfexKquXyBDkTb_WgQpFrrQodJ2EP7nIcM/s704/cr%C3%B3nicas%20Livreiro.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="704" data-original-width="467" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR-WOLc2KYmsLOhNmbsr8hfalNaxDnfPnLeOI-paqev-UoBGArNXj2ODnXkbNWo6g7nXh-J_w9DEBHszJa0VxPG0o7FdzPGSJ9N8sBqcEv-_qms7Zv3lOsIe1HHtepn-jfgjcqcFDlPsjJYYt4l9UpK7zCxgfexKquXyBDkTb_WgQpFrrQodJ2EP7nIcM/w265-h400/cr%C3%B3nicas%20Livreiro.webp" width="265" /></a></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">1</b>.Há livros cujo
fascínio nos transporta para dentro das páginas, como se quisessem
intrometer-se entre a memória e a realidade afluente dos dias para nos inquietarem
sobre os mundos que perdemos. É na sua leitura que, às vezes, os instantes e as
horas parecem eternas e nós habitamos esse tempo fragmentário com a alegria dos
pássaros quando cantam fora das gaiolas. Agosto é mês de luz intensa, que o sol
é bravo, e, por isso, penso eu, bom para a leitura à beira do mar ou da ria,
ou, se quisermos, à sombra de árvores de copa larga, num jardim ou em alta montanha. Há
livros que ficam a conversar connosco, depois de lidos, convocando-nos para
outros voos da memória, que é sempre nosso projeto inacabado enquanto estamos
verdadeiramente vivos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Um desses livros acompanhou-me durante meses menos bons e
nas suas páginas encontrei momentos para sorrir e, sobretudo, para consolidar
ideias sobre a leitura como ato de civilização, que acompanhou a libertação de
homens e mulheres, ajudando-os a respirar melhor socialmente, na sua caminhada
para serem gente. Estou a falar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas
de um Livreiro</i>, de Martin Latham, editado este ano pelas Edições 70, que eu
não hesitei em colocar na estante, ao lado dos livros do grande Mestre da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História da Leitura</i>, Albert Mangel <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O autor das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas,</i> como se quisesse explicar-se a si próprio, apropria-se da
declaração de Rousseau, nas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Confissões</i>:
“Não sei como é que aprendi a ler. Lembro-me unicamente das minhas primeiras
leituras e do seu efeito em mim. É desse tempo que dato a minha consciência de
mim”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Embora Latham tenha sido professor universitário, optou por
ser livreiro em Londres. Os livros são a sua grande paixão. A sua biografia
passa pelas grandes livrarias de referência, até se tornar ele próprio
livreiro. É, aliás, comovente, a forma como fala da sua livraria de Cantuária,
onde descobriu por debaixo da cave um espaço de banhos romanos, que ele próprio
recuperou, tornando o local motivo de atração de visitantes e leitores que não
dispensavam uma descida à cave. Mais do que essa curiosidade, o que fascinava
os leitores, e o próprio livreiro, era o universo humano da livraria, os
diálogos com escritores, as conversas com os clientes e as descobertas que tudo
isso potenciava. O livreiro Marthin Latham é uma personalidade cultural
singular. Investigador de gabarito, passou a vida a passar a pente fino as
grandes bibliotecas, públicas e privadas, seguiu os passos de colecionadores e
proprietários de bibliotecas, descobriu preciosidades, trouxe à superfície a
batalha das mulheres para serem leitoras e autoras, inventariou a importância
dos vendedores ambulantes de livros e sua relação histórica com a
democratização do conhecimento (tiveram papel relevante na Revolução
Francesa). As <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas de um Livreiro </i>convergem
numa narrativa de erudição amável – o que raramente acontece com os académicos
--, cheia de memorialismo, síntese de histórias, muitas histórias, de
experiências vividas com ilustres escritores ou resultantes da procura de
livros imemoriais. Não deixa Latham de registar perseguições e fogueiras a
livros e seus detentores (v.g. a Inquisição), publicando também um exaustivo e
interessante capítulo, capítulo<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, A vida
nas margens: os mistérios da marginália medieval</i>, onde se descobre (às
vezes em banda desenhada!, o espírito iconoclasta e altamente subversivo dos comentários. Essa
partilha de uma vida tão cheia, no mundo dos livros, faz destas <i>Crónicas</i> um
precioso processo de conhecimento, num arco temporal que cobre muitos séculos.
Um exemplo retirado do primeiro capítulo, o dos <i>Livros de Conforto</i>: “Em cerca
de 2.500 a.C. um egípcio equiparava encontrar a leitura certa a embarcar num
pequeno barco. Certos livros de conforto têm essa capacidade de nos transportar
para um lugar melhor. Esses romances totémicos são uma estranha salgalhada de
‘lixo’ e ‘clássicos’. Ou esta, no capítulo <i>Ler na Adversidade</i>: “A um criminoso
italiano do século XXVIII, foi dada a opção de escolher entre ser um escravo de
galé ou ler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">History of Italy</i>, de
Giucardini, em 20 volumes. Ele escolheu o livro, mas depois de alguns capítulos,
mudou de ideias e preferiu tornar-se um ‘escravo do remo’”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas de um
Livreiro</i> é um belo elogio da leitura, uma viagem ao mundo apaixonante dos
livros. São surpreendentes as histórias, como aquela com Umberto Eco, quando o
livreiro o convidou a fazer uma conferência à sua livraria. O escritor
italiano não estava disponível para ser conferencista, mas confessou a Latham
que teve sempre um desejo que não concretizara: estar num balcão duma livraria
a vender livros. O livreiro, claro, abriu-lhe a porta da livraria de Cantuária
e Eco esteve lá um dia, como empregado, a vender livros. No final, confessou: e
ninguém me reconheceu!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Não admira, pois, que um crítico do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sunday Express</i>, tenha escrito sobre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas de um Livreiro</i>: “Se vasculhar uma livraria é a sua ideia
de paraíso, este livro dar-lhe-á um prazer muito parecido com o que espera
encontrar no céu”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Havemos de voltar ao livro para outras histórias.</p><p class="MsoNormal"><b>LIVREIROS DA ESPERANÇA</b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE4bm9xvMBzRiDzkHCu2UQutkl5EzpKfCiipclAfchvlWNjcBSfn4W94PBMHynvVzXYFzxezOpkZqOep3tSa2naZMlD6n4UNCH_-wKh_NZ46rUFh8egDXFJuj-JBObXiVq79sqySwqZ8DukWDmXIis97ZwJvl6-eJyY8qW9o0jCpK87gBgpWQttOPVGSA/s1024/Luis_Pinto_Garcia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="909" data-original-width="1024" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE4bm9xvMBzRiDzkHCu2UQutkl5EzpKfCiipclAfchvlWNjcBSfn4W94PBMHynvVzXYFzxezOpkZqOep3tSa2naZMlD6n4UNCH_-wKh_NZ46rUFh8egDXFJuj-JBObXiVq79sqySwqZ8DukWDmXIis97ZwJvl6-eJyY8qW9o0jCpK87gBgpWQttOPVGSA/s320/Luis_Pinto_Garcia.jpg" width="320" /></a></div><p class="MsoNormal"><b> Dr. Luís Pinto Garcia</b></p><p class="MsoNormal"><b>2. </b>A leitura do
livro, devo confessar, não deixou de me causar um forte sentimento de
nostalgia. Aquele mundo, às vezes intimista, de diálogo entre o leitor e os
livros, aquela dimensão humana e afetiva que as livrarias ostentavam, como
espaço de sonho, foi um mundo que nós perdemos, rasurado das cidades pelo
consumismo dos grandes empórios capitalistas da indústria cultural. São tempos
sombrios, estes. Primeiro foram os bancos que tomaram conta daqueles cafés
emblemáticos, que Steiner considerou fundamentais na cartografia da Europa;
agora, foram os colossos comerciais que asfixiaram o negócio livreiro
independente, que representou um papel fundamental na promoção e
democratização da cultura.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Esse mundo que nós perdemos, não volta mais. Resta-nos a
memória de espaços que, de certo modo, suspendiam a asfixia cívica neste país e faziam
sonhar horizontes de liberdade e utopia. O pó do tempo já sepultou no esquecimento
muitos desses livreiros que cumpriam a sua função, às vezes como ato de
resistência, outras com a alegria de promoverem a alegria da leitura. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crónicas de um Livreiro </i>fez-me lembrar alguns deles, com um aceno de saudade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">São rostos das cidades. Castelo Branco já fez um tributo de
memória ao dr. Luís Pinto Garcia: o Museu de Francisco Tavares Proença Jr., de
que foi diretor, prestou-lhe homenagem e a Câmara Municipal inscreveu o seu
nome na toponímia. Este homem, que foi Governador Civil, depois do 25 de Abril,
licenciado em Histórico-Filosóficas, que o salazarismo proibiu
de ensinar, é referência na Numismática. Senhor de muitos méritos, hoje quero
lembrá-lo como livreiro. Ali, na Devesa, perto do café Arcádia, tinha a sua livraria.
Ele amava os livros e gostava de estar no meio deles, não desperdiçando
oportunidades para falar de autores. Tive a sorte de o ouvir muitas vezes
regressar aos temas da História e lembro-me da alegria com que falava de
autores portugueses, sempre com gosto de trazer Aquilino à conversa. Estou a
vê-lo, com os seus exuberantes cabelos brancos, sempre com um sorriso, quando
os amigos se acolhiam ao convívio dos seus livros e das suas palavras livres.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Nos anos sessenta, Castelo Branco tinha outros lugares que
merecem referência: o quiosque do sr. Vidal Sestay, a um canto da Devesa, que
vendia jornais, revistas e livros. Aos clientes de confiança, ele tinha prazer
em tirar de baixo do balcão livros proibidos, e, batendo nas capas, dizer:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">-- Acabou de chegar!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Também havia a Semedo, na Rua Rei D. Dinis, que tinha tipografia e editou livros.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Na Covilhã, a Livraria Nacional, na Rua Comendador Campos
Melo, era um lugar especial. O sr. José Mendes dos Santos tinha ali o seu mundo
e gostava de partilhá-lo. Na sua sobriedade, articulava a livraria com a
realidade urbana, com a devoção de um fazedor de cultura. Um foco cultural. Já
poucos se lembrarão que o sr. Mendes dos Santos editou livros de poesia do
Ernesto Manuel Melo e Castro e de Maria Alberta Menéres. Talvez também de José
Alberto Marques. Lembro-me do Ferreira de Castro ir lá a uma sessão de
autógrafos. Apresentei lá o livro <i>Beijinhos</i>, da trilogia de <i>Os Tugas</i>, do Manuel
da Silva Ramos e do Alface. Era um dia de neve e os autores chegaram tarde. O
sr. Mendes dos Santos estava feliz pela sua Livraria Nacional estar a promover
um acontecimento cultural, em que um autor era covilhanense.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Na galeria dos livreiros portugueses, há figuras notáveis,
como é o caso do paulense Augusto dos Santos Abranches, primo do escritor José
Marmelo e Silva, que nos anos 30, criou a Livraria e Editora Portugália, em
Coimbra, e teve importância decisiva no surto do movimento neorrealista,
editando nomes como Namora, Cochofel e Carlos de Oliveira. Arnaldo Saraiva publicou uma
biografia que, sintomaticamente, intitulou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Augusto
dos Santos Abranches: escritor e agitador cultural em Portugal, em Moçambique e
no Brasil. . </i>Fernando
Namora chamou-lhe “Cavaleiro da Esperança”, num texto publicado no “Jornal do
Fundão”, em 1963, aquando da sua morte.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Outro nome incontornável, também em Coimbra, é o de
Felisberto Lemos. Preso pela PIDE, afastado da livraria onde trabalhava, acabou
por ir para Luanda, de onde foi expulso em 1977, na sequência da revolta
nitista e da brutal repressão caucionada por Agostinho Neto. Manuel Alegre
dedicou um poema a Felisberto Lemos, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Livreiro
da esperança</i><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Há homens que são capazes<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">de uma flor onde<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">as flores não nascem<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Outros abrem velhas
portas<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">acendem nas praças uma
rosa de fogo<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tu vendes livros quer
dizer<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">entregas a cada homem<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">teu coração dentro de
cada livro<o:p></o:p></i></p><br /><p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6814536371281546259.post-81027424786555951592023-07-13T15:23:00.000+01:002023-07-13T15:23:15.528+01:00MARATONA EM BUSCA DO PRAZER DA LEITURA NA SERTÃ<p><span style="font-size: large;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIuAWLsWdzzgiYlDy5MYIui2fqhlAShwCGkXVySHibs6Q6GAznNL7PrF3VM6rdmOL7fT-SrrXYtoBa4Pi00UjKl_o8KihkuD9l97hrG_MBF5vaxzJVTtzRJ8qXBFDuIcMbS1XlXhIDulN5gRr7GnIBGnyqPBoD2XAsCg2GKCe2qaAfwhyTDrkTkRRsNk/s3000/IMG_20230707_120927_resized_20230712_050348040.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="2250" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIuAWLsWdzzgiYlDy5MYIui2fqhlAShwCGkXVySHibs6Q6GAznNL7PrF3VM6rdmOL7fT-SrrXYtoBa4Pi00UjKl_o8KihkuD9l97hrG_MBF5vaxzJVTtzRJ8qXBFDuIcMbS1XlXhIDulN5gRr7GnIBGnyqPBoD2XAsCg2GKCe2qaAfwhyTDrkTkRRsNk/w300-h400/IMG_20230707_120927_resized_20230712_050348040.jpg" width="300" /></a></div><br />Às vezes, é no nó de terra regional que descobrimos
surpreendentes realidades, que mal cabem no conhecimento do país relativo,
que em muitos aspetos permanece caricatura daqueles versos do Alexandre O’Neill:
“país por conhecer, por escrever, por ler”.<p></p><p>
</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Lembrei-me do poema e do poeta porque um dia destes fui à
Sertã participar na Maratona Literária, uma iniciativa que leva mais de dez
anos de vida, que só a pandemia interrompeu, sustentada por uma política
cultural projetada no quotidiano local. Como o título faz adivinhar, esta
Maratona Literária é um elogio à palavra e ao prazer da leitura. Uma Maratona
sem pressas, já que cada momento, muitas vezes numa relação de encantamento com
lugares, aldeias, o rio Zêzere, claro, e, sobretudo, com uma geografia sentimental
da Sertã, valorizadora do seu património cultural e histórico. </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Face a um Festival que cobre muitas áreas da arte, com
relevo para a literatura, a poesia, a música, a história (e as estórias), a Maratona é,
ao mesmo tempo, inquietação e sossego, apetecendo parar em muitos instantes e
invocar os versos de Raul de Carvalho: “Vem serenidade…És minha.” O Prof.
Manuel Antunes, natural da Sertã e, aliás, patrono da Biblioteca Municipal,
deve estar feliz, lá onde está, a observar a dinâmica cultural da sua terra.
Talvez nos tenhamos acolhido todos à sua sombra tutelar para honrar o prazer da
leitura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;">Estavam lá dezenas de escritores e artistas e até havia
poesia ao domicílio servida por poetas de várias gerações. O imaginário era ponto
de encontro do Festival. Não admira, por isso, que houvesse sessões com
contadores de histórias, numa ligação afetiva ao universo escolar, e o
esplendor oral fosse nota dominante nas peripécias da Maratona. Foi nessa temática
que se programou a mesa onde participei (moderada por Elsa Ligeiro, olá Elsa!)
com o José Manuel Castanheira e José Luis dos Santos, que é fotógrafo
trota-mundos. Estávamos lá para falar do livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Carorze Histórias Incríveis ou o Fabuloso Imaginário das Lendas da
Beira Baixa</i>, uma aventura plástica e de escrita, a partir de lendas recolhidas
por Jaime Lopes Dias. Foi um tributo à memória desses sábios que percorriam o
país para salvar mundos que, de outra forma, teríamos perdido. E à força
criadora da cultura tradicional, com a autenticidade da sua raiz popular. A
sessão decorreu na escadaria da Misericórdia, excelente espaço, à sombra de
tílias monumentais, onde os pássaros faziam as suas sinfonias.<o:p></o:p></span></p>13.07.23<p></p>Fernando Paulouro Neveshttp://www.blogger.com/profile/05668127631453130510noreply@blogger.com1